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Jade e Yáskara são duas psicólogas, gaúchas, que dividem a vida em Belo Horizonte. Chegaram na capital mineira em março de 2021, durante a pandemia. Entendem que, mesmo com o acaso de terem passado as últimas férias pré-covid em Minas Gerais, a razão da mudança foi única: uma nova oportunidade de trabalho.

 

Yáskara, que no momento da documentação estava com 40 anos, é natural de Palmeira das Missões, interior do Rio Grande do Sul. Já morou em diversas cidades do RS e estava morando em Porto Alegre há alguns anos. Ela é psicóloga e dá aula em universidades, estava se sentindo esgotada porque seu trabalho preenchia os três turnos do dia e sentia que precisava desacelerar o ritmo. 

 

Jade no momento da documentação estava com 26 anos, é natural de Porto Alegre e por lá trabalhava com a psicologia dentro das políticas públicas, em uma casa-lar na Restinga, bairro periférico da Zona Sul. Seu trabalho também mudou com a ida para Belo Horizonte, decidiu atender de forma clínica e se voltar para um público específico: a comunidade LGBTQIA+ e pessoas em situação de pós-encarceramento.   

 

A oportunidade surgiu lida como uma brincadeira pela Yáskara, que chegou para a Jade contando: “Recebi essa proposta de trabalho, mas não tem como, né? Imagina, morar em Belo Horizonte…” e, para a surpresa, Jade respondeu: “Por que não?”. Depois disso, começaram a pensar melhor sobre e embarcaram nessa nova cidade. Hoje em dia, entende e enfatiza a importância de estar em espaços acadêmicos para mudar as coisas de dentro, trazendo representatividade, reinventando a psicologia.  


Jade e Yáskara se conheceram em 2016, mas só em 2018 foram se relacionar de fato. Na época, elas viviam relacionamentos distintos e, quando entenderam o que sentiam, precisaram encerrar as relações para ficarem juntas. 

 

Foi um momento muito delicado por conta das diversas emoções, misturadas com muito trabalho diário. Por outro lado, contam que gostaram tanto de ficar juntas que, ao dormirem na primeira noite, nunca mais se desgrudaram: sentem que desde então dormiram juntas todos os dias. 

 

Juntaram as coisas, os cachorros e foram morar juntas, logo no início. Sentem que a experiência da relação ser um casamento vem desde esse início. Não tiveram tantos momentos clichês de um começo de relação, mas sim momentos específicos que hoje em dia lembram dando risadas: no primeiro cinema juntas, dormiram, de tão exaustas que estavam. Na primeira vez na praia tomaram insolação, porque esqueceram o protetor.


 

Dentro de casa, viveram toda a pandemia juntas. No começo foi difícil, estavam morando em um apartamento sem divisões em Porto Alegre, precisaram entender como seria a dinâmica. Hoje em dia, no novo lar em Belo Horizonte, deram muito valor a isso desde o começo: como trabalham bastante em home office, cada uma possui um espaço demarcado em casa que seja confortável para seus atendimentos e trabalhos. 

 

Pelas tantas vivências no início e depois já ter embarcado na pandemia e na mudança de estado, sentem que já viveram muitas coisas juntas. Contam que conversam sobre tudo (e imaginamos, né? duas psicólogas juntas!), compartilham muito sobre o que estão pensando, sentindo e como foram seus dias. Não costumam se desentender por coisas sobre o relacionamento, discutem mais por questões rotineiras: como o comportamento dos bichos em casa. 

 

Gostam muito da companhia uma da outra, de beber vinho ouvindo música, de estar compartilhando pensamentos e sentem que não são o tipo de casal que fica sozinha individualmente. Elas têm seus espaços, mas sempre que podem estão juntas desfrutando dos ambientes de convívio em comum. 


 

Em Belo Horizonte, procuram conhecer “espaços de respiro”, ou seja, lugares que sejam confortáveis para estarem enquanto mulheres da comunidade LGBT. 

 

Acreditam que se unem muito pelas questões políticas (a primeira foto que possuem é na manifestação contra o Bolsonaro/Ele Não em 2018, por exemplo) e também buscam lugares de militância na cidade. Além disso, gostam de assistir shows (e elogiam quanta cultura há em BH), além de ocupar espaços públicos como praças e eventos abertos pela cidade. 

 

Atualmente, além de viajar para o interior de Minas Gerais, também adotaram um gatinho mineiro, fazendo companhia para os cães da casa. 

 

Entendem que viver a mudança e o dia a dia da forma que vivem significa muita união. São elas por elas, ou como disseram: ‘nós por nós’. Estão abertas a fazer novas amizades e desbravar a cidade, mas acabam sentindo uma confirmação de amor ainda maior quando olham para trás e percebem o quanto já caminharam juntas.



 

Jade acredita que é muito importante se referir à Yáskara como sua esposa, pela ressignificação de termos heterossexuais. Falam sobre a importância do casamento neste sentido também - em breve a cerimônia será realizada e, por mais que a Jade cresceu ouvindo sua mãe dizer “Não case! Depender de homem é muito ruim!” hoje entende que o que estão fazendo não fará que elas sejam dependentes financeiramente de alguém. Sente que o casamento LGBT+ vem em outro sentido, falando muito mais sobre uma ressignificação de direitos, um planejamento para a facilitação na burocracia de ter filhos e um direito que nós temos.

 

Ambas vivenciaram relações heterossexuais duradouras e falam sobre agora encontrarem outro sentido para as relações amorosas enquanto estão juntas - coisas até que não cogitavam pensar, como ter filhos. Yáskara fala sobre estarem pensando na maternidade, algo que ela nunca tinha se visto desejar antes. Pensando juntas, adoram a ideia de ter um ou dois bebês, e comentam que o desejo de engravidar não chega enquanto uma questão heteronormativa estereotipada do qual um casal namora > casa > engravida, e sim como algo que temos direito, que querem vivenciar, conquistar juntas enquanto uma nova perspectiva de aprendizado, cultura e educação.

Para Jade, o amor passa pelo afeto, porque é o afeto que nos move em tudo o que fazemos, faz ter propósito. Yáskara complementa que amar é ter também respeito pelas diferenças. O amor que constroem passa pelo respeito e pelo apoio sobre o que pensam, além de ser livre, não necessariamente no sentido monogâmico, mas livre para que estejam confortáveis e à vontade na relação, sem um ultra romantismo: que as permitam viver bem, que se ampliem juntas. 

 

Contam sobre uma situação que quando começaram a namorar foram para Salvador e decidiram jogar búzios antes de chegar lá. Neste momento, o pai de santo trouxe várias coisas interessantes sobre o relacionamento delas e perguntou se elas estavam preparadas para viver ‘uma metade só da laranja’, porque elas eram a mesma metade, por serem tão parecidas. Ao decorrer do relacionamento entenderam que isso faz muito sentido, se vêem muito uma na outra. Além disso ele disse que a Jade casaria aos 26, o que, sem elas perceberem, acabará se concretizando.

 Yáskara 
 Jade 
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