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Conheci e documentei a Mariana e a Marie numa ida muito breve até Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no fim de dezembro de 2021. Não prevíamos a ida, quem dirá o encontro, mas estávamos em contato antes mesmo do Documentadas inaugurar, desde fevereiro do mesmo ano, quando comecei algumas movimentações na internet sobre o lançamento do projeto e elas entraram em contato comigo porque gostariam de se inscrever. De pronto, pensei: “Nunca fui ao Mato Grosso do Sul e não vejo como ir agora, acho bem difícil acontecer", eis que elas estiveram no Rio de Janeiro e mesmo assim não conseguimos nos encontrar… tudo desandou, mas se encontrou de novo: foi no Parque das Nações Indígenas, numa tarde típica, entre calor, sol e chuva, muitas araras e boas conversas, que fizemos a nossa documentação.

 

Por mais que esse encontro realmente tenha acontecido no Mato Grosso do Sul, a verdade é que nem a Mariana, nem a Marie são de lá. Mariana tem 28 anos, é do Rio de Janeiro mas mora lá, ou melhor, mora em Sidrolândia, interior do estado. Já a Marie é de Fortaleza, mas está em Campo Grande há cerca de 6 anos, entre estudos e trabalho. 

 

Marie faz diversas brincadeiras por ter um estilo surfista e por não ter mar em Campo Grande, então elas contam que a relação é cheia de sonhos - esses, possíveis de alcançar: morar em um lugar confortável litorâneo, ter uma casa para elas estarem com a husky que adotaram, fazerem novos amigos, vivenciar o amor que acreditam ser compartilhado na relação que elas constroem diariamente. 





 

Com o começo da pandemia, a Mari e a Marie se viram em uma situação que não imaginavam viver antes: pela Mari ser servidora pública estadual, ela passou a trabalhar de home office e a Marie também, sendo assim, elas ficaram juntas em casa durante todo o período de isolamento.

 

Este período fez com que muitas coisas fossem repensadas. Foi como um período teste para saber se elas dariam certo morando juntas, claro, porque nem todo mundo dá certo (e tá tudo bem!), mas o repensar foi sobre um futuro mais distante. Elas nunca tinham pensado, por exemplo, sobre o envelhecimento. Marie conta que foi um processo sobre se entender e entender a Mari enquanto uma companheira de vida, foi morando junto com ela neste período que ela percebeu que queria envelhecer junto, ter essa companhia, não se ver mais sozinha como se via anteriormente…

 

Com o passar dos meses, foram amadurecendo essa ideia. Hoje, comentam sobre o casamento e, por mais que a Mari trabalhe em outra cidade e que isto não permita morarem na mesma casa, nada é fixo. Estão sempre dispostas a mudar ou a melhorar a rotina da forma que podem. 



 

Por mais que as duas fizeram a mesma faculdade, de Direito, em Campo Grande, não foi no curso que se conheceram. Na verdade, há algumas versões disso - ou melhor, elas foram se conhecendo por etapas. 

 

Quando pergunto se alguma delas possui algum hobbie, a Mari conta, rindo, que o grande hobbie da Marie é fazer o ENEM. A graça por trás disso é que a Marie fez o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) por muitos anos, assim, por fazer, mesmo já estando na graduação e foi numa dessas provas que a Mari era fiscal e elas caíram na mesma sala. A Marie achou a Mari muito bonita e notou que ela estava usando o moletom do curso de Direito e, como fazia parte do curso também, foi pesquisar nos grupos do Facebook até achar o perfil dela. O que ela não imaginava é que justamente naquela época a Mari tinha dado um tempo das redes sociais e desativado o perfil do Facebook, então não apareceria mais nesses grupos, ou seja, a Marie não encontrou e desistiu. 

 

Um tempo depois, Marie voltou a treinar muitos esportes (rugby, polo aquático, handebol…) e participou de um grupo de meninas que jogavam. Nesse grupo, perguntou se alguém era da mesma região que ela, para conseguir companhia na ida-volta ou até mesmo uma carona e a Mari respondeu, quando encontrou ela pessoalmente viu quem era e ficou chocada, logo pensou “Eita, é a menina do ENEM!!
 

A Mariana não deu muito papo no começo. Ao menos, não na versão da Marie. Ela tentou puxar alguns assuntos em vão e até adicionou no Instagram, mas ela não aceitou, nem chegou a ver a solicitação. 

 

Meses depois ela viu a solicitação, aceitou e quando começou a aparecer no Instagram da Marie, ela logo puxou um assunto respondendo um storie. O que, obviamente, a Mari não interpretou como um flerte. Foi preciso continuarem conversando e desenrolando assuntos até que as coisas foram acontecendo. 

 

Ah, e um detalhe importante! Claro que a Mari lembrava que conhecia a Marie de algum lugar, antes do esporte, mas nunca do ENEM. Ela até perguntou aos amigos, se alguém conhecia ela, se já tinham ido a algum evento em comum… mas ninguém sabia dizer. Durante a conversa o mistério foi desvendado e ela lembrou de tudo. 



 

Um tempo depois de conversarem pelo Instagram, elas se encontraram pessoalmente e tudo começou a fluir muito bem. 

 

Nessa época, a Marie ficou um pouco receosa, pois vivia um pós término em que ainda morava/dividia apartamento com a ex namorada, por questões de estarem se organizando com as contas. Elas moravam juntas antes do término e eram mulheres que não tinham base familiar na cidade de Campo Grande, então era difícil sair de casa sem ter para onde ir tão repentinamente. Precisava-se de um tempo para achar um novo imóvel, assumir os gastos, etc. Falar tudo isso pode ser delicado para alguém que está começando a conhecer, ainda mais no caso dela e da Mari, que demorou tanto para finalmente acontecer e que ela estava se sentindo tão envolvida… Então ela sentiu um pouco de medo da Mari desconfiar ou achar que isso fosse um papo sobre uma relação que não tivesse realmente acabado. Foi com um diálogo muito aberto e sincero que conseguiu falar sobre isso e estabelecer uma confiança legal sobre o que estava acontecendo. A Mari acompanhou o processo e tudo acabou sendo tranquilo, a mudança aconteceu no tempo que tinha para acontecer e sem desconfianças, enquanto as duas se conheciam melhor também.

 

A Mari comenta que, para ela, amar é o que move as relações - e o que aproxima os seres humanos. Ela já teve relacionamentos com homens e mulheres e pela dificuldade que sentiu na identificação da última vez que tentou se relacionar com um homem, acabou entendendo que a relação entre mulheres envolve uma desconstrução muito maior. Mas que o amor está/atinge à todos - envolve empatia no dia a dia e no convívio. 

 

Marie conta as relações da identificação dela com o amor… Como ela foi aprendendo isso na vida e a ler essas interpretações - ela explica que, por muito tempo, buscou parâmetros de amor que não viveu. Pela vivência com a mãe não envolver um afeto físico, nunca entendia o motivo exato disso, até que com essas leituras passou a entender as vivências da mãe, fazer recortes, ter consciência de classe, raça, ler detalhes dentro da história de uma mulher. Ela diz que: “Mesmo com esses recortes, têm coisas - como o amor - que a gente não precisa abrir uma enciclopédia para explicar… uma mulher sabe amar a outra porque isso naturalmente acontece.”

 Marie 
 Mariana 
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