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Espaço de Pesquisas

Oi! Este é um espaço do qual você pode pesquisar e encontrar histórias de mulheres que participaram do nosso projeto por todo o Brasil! Legal, né? 

Pra usar, basta digitar no espaço de pesquisa alguma palavra-chave, por exemplo: alguma profissão, alguma cidade, algum tema... 

 

É o nosso verdadeiro banco de dados - o primeiro, da história das mulheres que se relacionam afetivamente

com mulheres - e precisa ser valorizado! ♥

74 itens encontrados para ""

  • Psicólogas disponíveis | Documentadas

    nossas profissionais disponíveis Ana Carolina Psicóloga Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense - mestrado em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. CRP 05/58463 Leia mais Talyta Psicóloga Psicóloga - graduada pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) - estudos em psicanálise. CRP 06/169049 Leia mais Marina Albuquerque Psicóloga Psicóloga graduada pelo Centro Universitário IESB e especialista em Psicologia Humanista. CRP-01/19203. Leia mais Mariana Milan Psicóloga Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. CRP 12/26613 Leia mais Camila Psicanalista Psicanalista. Membro provisório do Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre/RS (CEPdePA) e Advogada Especialista em Direito Público Leia mais Ana Clara Ruas Psicóloga Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói. CRP 05/66226 Leia mais Maria Clara Goes Psicóloga Psicóloga mestra sobre saúde sexual de mulheres cis lésbicas, pela Universidade Federal da Bahia. Praticante da Psicanálise - CRP 03/27093 Leia mais Maria Freire Psicanalista Psicanalista pela Escola Letra Freudiana. Doutorado em filosofia. Leia mais Viviane Psicóloga Psicóloga graduada pela PUCRS, especialista em Clínica Psicanalítica (UFRGS) e mestre em Psicologia Social na UFRGS. CRP: 07/23395 Leia mais Júlia Psicóloga Psicóloga - Mestrado na Universidade Federal Fluminense em Psicologia - CRP 05/60076 Leia mais Larissa Psicóloga Psicóloga formada pela Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. CRP 06/161422 Leia mais Marina Nobre Psicóloga Psicóloga formada pela Universidade de Fortaleza. CRP 11/15307 Leia mais Thays Waichel Psicóloga Psicológa graduada pela Universidade Luterana do Brasil - Canoas/RS Ênfase em Orientação Psicanalítica. CRP 07/37003 Leia mais Ana Flávia Psicanalista Pedagoga pela Universidade Federal do Paraná e psicanalista pela Associação Livre Centro de Estudos em Psicanálise Leia mais Ariadne Sitaro Psicóloga Psicóloga Pós Graduanda em Gestalt Terapia e Reprodução Humana Assistida. CRP 02/28387 Leia mais Paula Martins Psicóloga Psicóloga, formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pós graduanda em Psicopedagogia. CRP 05/63682 Leia mais Caroline Afonso Psicóloga Psicóloga - formada pela Universidade Luterana do Brasil Canoas/RS. CRP 07/38059 Leia mais Gabriela Nunes Psicóloga Psicóloga formada pela UNISINOS e pós-graduanda em Psicologia Clínica pela PUCRS. CRP 07/41102 Leia mais Jamyle Psicóloga Psicóloga - Mestrado em lesbianidades a partir de uma perspectiva interseccional, pela Universidade Federal do Ceará. CRP 11/18191 Leia mais Deyse Van Der Ham Psicóloga Psicóloga - Especialista em Políticas Públicas e Assistência Social pela PUCRS. CRP 07/24426 Leia mais Dani Psicóloga Psicologia Social, Psicanálise e Educação - Universidade de São Paulo - CRP 06/137811 Leia mais Raquel Psicóloga Psicóloga formada pela Faculdade de Pato Branco/FADEP Pós-graduação em Gênero e Sexualidade. CRP 12/23076 Leia mais Laís Tiburcio Psicóloga Psicóloga Clínica, Pós-graduanda em Gênero & Sexualidade, formação em Politica Nacional de Saúde LGBT. Estudos em Psicanálise. CRP 05/57276 Leia mais Jade Psicóloga Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense - mestrado em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. CRP 05/58463 Leia mais Kíssila Psicóloga Psicóloga formada pela UFF e pós-graduanda em Fenomenologia Decolonial e Clínica Ampliada pelo NUCAFE. CRP 05/69513 Leia mais para fazer cadastro, basta ler sobre as psicólogas disponíveis, preencher o formulário em cada "Ler Mais" e aguardar o nosso contato! caso tenha alguma dúvida, nos mande um alô por aqui :)

  • Quero participar! | Documentadas

    QUERO PARTICIPAR! COMO FAÇO PARA ME INSCREVER? É muito mais fácil que você imagina! Você e sua companheira gostariam de ser fotografadas e participar do projeto? Preencha os campos a seguir informando a cidade que vocês moram (ou que gostariam de ser fotografadas), o nome de vocês, a melhor forma de contato, o e-mail e em breve nos falaremos diretamente! É importante ressaltar três coisinhas: 1. Só documentamos e registramos casais. Entendemos a importância de cada mulher enquanto um ser único nesse mundão! Mas nosso objetivo é registrar o amor entre mulheres.* 2. Nossa residência oficial fica no Rio de Janeiro, mas com a demanda de pedidos em outros estados, há várias possibilidades de viagens voltadas à fotografar casais! Não desanima! Pelo contrário, você têm casais de amigas que topariam participar também? chama elas e se inscrevam juntas! Assim, quanto mais pedidos, mais chance de irmos até você. ♥ 3. Para entender os valores da participação no projeto (são várias opções que você pode escolher), explicamos aqui: R$ 100 - Valor mínimo que inclui os gastos com o transporte até o local escolhido, as fotos editadas incluídas (com a logo do doc ♥) e a pós produção do projeto (transcrição de áudio, produção textual, etc). R$ 150 - Valor que cobre todos os gastos da sua participação no projeto e que ajuda outro casal que não possui condições financeiras de participar, a fazer parte também! - também inclui, claro, todas as fotos editadas (com a logo do doc ♥) e toda a pós produção do projeto! R$ 200 - Valor para impulsionar o documentadas a seguir existindo! Esse valor garante suas fotos editadas (com a logo do doc ♥), a sua participação no projeto e nos ajuda a chegar em mais casais, garantindo valores para que o projeto se mantenha com as contas pagas** e siga vivo. R$ 300 - Valor de ensaio fotográfico, além da documentação! Essa é para quem quer as fotos para toda a vida, além da documentação que o projeto propõe. Por isso, entregaremos as fotos em alta resolução, editadas e sua participação no projeto segue garantida. Caso você e sua companheira não possuam o valor mínimo para participar do projeto, não tem problema! Faça a sua inscrição e chama o Documentadas para conversar, ok? Todo mês temos algumas vagas gratuitas abertas para que todas possam participar do projeto! Sua participação é muuuuito importante para nós. * caso você queira muuuuuito ser fotografada de forma individual, pode adquirir nossos serviços pedindo um orçamento de ensaio fotográfico. manda mensagem pra gente através da aba 'contato', ok? até logo! ** a colaboração serve para cobrir os gastos para que o projeto se mantenha vivo :) postamos nossa prestação de contas diretamente no Instagram! fique de olho por lá <3 Preencha seus dados aqui: Confirma que você e sua companheira são maiores de 18 anos? Sim, somos maiores de 18 anos de idade. Você leu o texto ali em cima, sobre a sua importância no projeto e os valores das participações? Sim, li tudinho! Enviar Prontinho!! Obrigada pelo envio. Você receberá uma confirmação por e-mail, tá? lembra de olhar no lixo eletrônico :p Logo logo te mando um oi pelo Instagram ou Whatsapp! <3

  • Melina e Karyne | Documentadas

    Melina e Karyne se conheceram há cerca de dois anos, mas só começaram a se relacionar de fato no ano passado. Foi num famoso bar com karaokê em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, que elas se esbarraram. Sem amigos ou conhecidos em comum, Melina viu Karyne cantando e falou para os amigos dela o quanto “era bonita e poderia ser a mulher da minha vida”. Depois que ela saiu do palco, Melina ficou procurando ela pelo bar mas não encontrou, até que na hora de ir embora viu ela numa mesa, com alguns amigos… criou coragem, foi falar com ela e pediu um beijo. O beijo aconteceu e ficaram juntas um tempo, depois trocaram perfis no Instagram (e Karyne estava com seu perfil desativado, acabou passando um que usa para publicar seus desenhos), trocaram algumas conversas e começaram a se encontrar aos poucos. Como havia uma boa comunicação quando saiam juntas, falavam sobre não estarem em um momento que desejavam um relacionamento, não era prioridade para as duas. Se encontrar da maneira que estava rolando, uma vez por mês, quando a Karyne respondia as mensagens que Melina enviada, acabava sendo confortável - e quando saiam se divertiam juntas, iam à cinemas de rua (como o lugar em que fizemos as fotos), espaços culturais e bares. Assim seguiram durante um ano. Hoje em dia, estabelecer essa comunicação franca ainda está nos seus principais objetivos enquanto casal. Entendem que são pessoas culturalmente diferentes, que uma é mais fechada que a outra e que só vão se abrindo aos poucos. É por isso, também, que tratam com muito cuidado os momentos difíceis porque sabem que possuem formas diferentes de lidar. Melina estava com 26 anos no momento da documentação, é natural de Niterói - RJ e é atriz. Atualmente está se formando numa escola de teatro (como curso técnico) e este ano vai iniciar os estudos em teatro na universidade. Independente do estudo acadêmico, faz teatro desde os 8 anos de idade e já deu aulas tanto de teatro, quanto de violão (e adora trabalhar com o que envolve educação e arte) explica que foi educada envolta de muita arte e não se vê longe disso. Quanto aos hobbies, adora jogar vôlei e desenhar. Karyne estava com 24 anos no momento da documentação, é natural de São Gonçalo - RJ e se formou em Publicidade. Hoje em dia, faz uma pós-graduação em comunicação e linguagem visual em semiótica, e por mais que não esteja trabalhando no momento, possui experiência como social media, professora de inglês e comunicadora em agências. Seus hobbies permeiam a arte, o desenho, a pintura e a moda. Adora criar coisas. Inclusive, junto com a Melina, trocam diversos presentes cheios de detalhes e coisas que elas mesmo fizeram. Quando começaram a sair, em março de 2022, o primeiro encontro foi num evento circense no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) no Rio de Janeiro. Por mais que já haviam se beijado no bar, estavam muito nervosas e mal conseguiram chegar perto uma da outra. Karyne explica que Melina foi a primeira menina que ela beijou depois de se assumir, pois passou muito tempo na igreja e foi na pandemia que ela entendeu e se abriu com a família sobre quem era, então ficava bastante nervosa, era tudo bem novo. Todos os primeiros encontros eram marcados pelo nervosismo de ambas e ficavam se cobrando que “não precisava desse nervosismo todo, era só viver o encontro”, mas quando chegava a hora ele falava mais alto. Por conta disso, demoraram um tempo para se beijarem novamente, mas todos os encontros eram muito divertidos e sempre sentiam vontade de se ver mais. No início de 2023 foram ao cinema e tiraram a primeira foto juntas. Karyne, depois desse dia, passou um tempo em São Paulo e elas começaram a interagir mais de forma online, conversar bastante e sentem que foi aí que tudo mudou. Quando ela voltou, saíram novamente, foram em espaços culturais e não pararam de se encontrar por conta da conversa que mantinham o tempo todo online. Entendem que precisavam desse tempo até a relação começar porque realmente não estavam preparadas/e nem queriam se relacionar antes. Depois que começaram a se aproximar mais, fizeram piquenique juntas e já se viam completamente apaixonadas. Num dia foram ao show da cantora Liniker, que aconteceu de forma gratuita na praia e por mais que tenham passado muito perrengue para conseguir voltar para casa, se divertiram e entendem que nesse dia já queriam começar o namoro. Foi no evento, também, que Karyne conheceu a irmã da Melina e muitos dos amigos delas. Além dos amigos, Karyne conheceu toda a família da Melina logo no começo do relacionamento, esteve presente em aniversários e todos adoram ela. Nessa mesma época em que estava introduzindo Karyne na sua vida, Melina fazia provas e apresentação de teatro no curso e Karyne ia assistir. Foi num dia desses, quando chegaram em casa que Karyne pediu Melina em namoro e Melina cantou uma música que fez pra ela. Falaram “eu te amo” juntas. Tanto a Melina, quanto a Karyne, desejam seguir caminhos na relação que não refletem coisas que já viram ou vivenciaram, por exemplo: briga dos pais. Por isso, fazem muita questão de sentar, conversar, escutar, compreender… Karyne não tem a aceitação da família - e já até perdeu as esperanças quanto à isso - porque possuem um pensamento muito conservador e seguem os padrões da igreja, mas entende que isso leva tempo. Para Melina a realidade é outra, por mais que tenha sido muito difícil ter se assumido, os pais possuem uma cabeça mais aberta e, por mais que também frequentem a igreja, acreditam que elas precisam se sentir seguras em casa antes de qualquer outro lugar. Independente da não-aceitação da família da Karyne, ela se assumir e conversar com a família fez também com que se aproximasse de outros familiares que a aceitaram (como a prima que também é casada com uma mulher e a tia que já reivindicou o amor delas como algo natural, sem problema algum) e nesse sentido é muito bom ter apoio. Ela entende que existem coisas que precisou ceder para ser ela mesma, principalmente se as pessoas não respeitam, e está disposta a ser o que ela é, se aproximando de quem a respeita e quer ela bem. ↓ rolar para baixo ↓ Karyne Melina

  • Angélica e Jaque | Documentadas

    Angélica, no momento da documentação, estava com 34 anos. Ela é natural de São Miguel do Iguaçu, uma cidade no interior do Paraná, mas mora em Criciúma - Santa Catarina há bastante tempo. É apaixonada pela escrita, gosta de escrever poemas, ler e passar tempo com os seus bichinhos em casa. É formada em letras e trabalha na UNESC, universidade pertencente à cidade de Criciúma, no setor de educação e design instrucional. Sua função é receber o material didático que será passado ao aluno na modalidade de educação à distância e preparar este material para que ele fique mais didático, com elementos, esquemas, imagens, deixando-o mais interessante pensando no autoestudo do aluno, visto que ele estará estudando em casa sozinho. Além disso, Angélica também trabalha com a Jaque, sua companheira, enquanto produtora dos eventos que ela canta e toca. Ela monta o equipamento, cuida do som, faz alguns registros para redes sociais e faz os contatos para fecharem os próximos shows. Quer muito fazer da sua produtora um trabalho fixo, e inclusive, quando nos encontramos para a documentação ser feita, iria acontecer nos dias seguintes o primeiro evento oficial criado por elas. Jaqueline, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural de Sangão, interior catarinense, mas atualmente mora em Criciúma com Angélica. Estuda psicologia e trabalha como estagiária no setor de arte e cultura da UNESC, universidade já citada acima. Aos finais de semana se dedica aos eventos em que trabalha fazendo shows em estilo voz e violão ou com a sua banda. Adora cantar e observar as pessoas enquanto canta, além disso, sempre que pode está assistindo algum show e pegando referências para o seu próprio trabalho. Angélica levava uma vida bastante agitada quando conheceu Jaque. Conta que só queria saber de sair, beber, beijar na boca… Inclusive, estava procurando mulheres para beijar quando encontrou no Twitter um link que levava à um grupo e Whatsapp chamado “SAC Sapatão”. Lá havia gente do Brasil todo e logo perguntou: “Tem algum DDD 48 aqui?”. Alguns dias depois a Jaque respondeu ela no privado, falou: “E aí, Criciumense?!” porque já tinha visto o papo se desenrolar lá no grupo. Passaram duas semanas conversando sem parar, até que resolveram marcar um encontro para se conhecer em que Angélica buscaria a Jaque em sua cidade, próxima à Criciúma, elas beberiam em Criciúma e depois ela a levaria de volta. A questão foi: elas só beberam. E Jaque, pobrezinha, estava cheia de fome, pingava de bar em bar com a Angélica contando mil histórias e bebendo… e só via as comidinhas passando para as outras mesas. Jaque era muito tímida, não disse nada, mas também não comeu. Chegou em casa com fome, achou o date ruim. Deram um beijo na despedida e isso foi o bastante para Angélica, que não tinha noção da fome da Jaque, pensar: “Yes! Arrasei!”. Jaque resolveu dar mais uma chance, se encontraram novamente e dessa vez teve até uma bolachinha dentro do carro, caso a fome batesse. Foram até a cidade de Tubarão, próximo onde Jaque morava, para viverem uma festa. Na época, já se sentiam bastante envolvidas. Angélica via a Jaque cantando nos vídeos e sentia a paixão chegando, mas os amigos não colocavam fé, para eles era só mais uma paixão passageira. A partir do segundo encontro em que foram na festa e que depois da festa dormiram juntas, sentem que algo começou a se firmar. Se encontravam com frequência, Jaque na época cursava uma faculdade em Criciúma e isso fazia com que estivessem sempre juntas… Mas Angélica seguia com o seu jeito agitado, querendo sair e curtir a vida, até que foi preciso entender que não dava para continuar com tanta intensidade assim, foi “sossegando” aos poucos. Do momento em que se conheceram até o começo do namoro foi bem rápido, entre janeiro e fevereiro de 2019. Logo no começo, também, já se apresentaram para as famílias, compraram alianças de namoro e foram seguindo a relação, até que depois de alguns meses entenderam que namorar morando em cidades diferentes estava ficando muito difícil. Jaque se mudou para Criciúma e foi morar com Angélica, se estabilizou num emprego e a vida recomeçou… Até começar a pandemia de Covid-19, onde trabalhavam de casa e passavam o dia inteiro juntas. No meio de tudo o que viviam, para garantir direitos e também celebrar o amor que resistia em tempos pandemicos, casaram-se no papel. Queriam fazer uma grande festa, mas não foi possível. Contam, rindo, que saíram do trabalho num dia chuvoso, foram até o cartório assinar um papel e assim que saíram de lá comeram uma coxinha e beberam uma coca-cola, foi a forma de comemorar. Quando nos encontramos para a documentação haviam recém trocado as alianças de namoro para de casadas, mesmo depois de alguns anos, porque queriam ter condições financeiras para comprar alianças legais. Estavam felizes com isso e fizeram questão de registrar nas fotos. Por mais que já passaram por muitas coisas boas juntas, existem também as difíceis, como a própria pandemia. Angélica perdeu a avó, uma das pessoas mais importantes da sua vida, e por conta do trauma desenvolveu alguns medos e fobias. A relação passou a significar apoio para além do romântico, Jaque se tornou um suporte imenso, um cuidado e ajudou no entendimento desses medos, de viver esse processo. Juntas, elas se apoiam em tudo. É nesses momentos que enxergam o amor de forma clara, refletido no cuidado, companheirismo, ajuda diária a enfrentar a vida. Angélica conta que acorda mais tarde, então Jaque tem todo o cuidado de preparar o café, pensar na rotina uma da outra, deixar os lanches prontos… E isso fala muito sobre apoio. O amor não precisa estar sempre no afeto físico. Ele está, também, na forma que elas sonham em viver da música e fazem o sonho virar realidade, investem em equipamento, em editais de cultura, vão atrás de shows para fazer… em toda a vez que dão as mãos e acreditam uma na outra. Falamos sobre trabalharem juntas, morarem juntas, viverem uma rotina muito intensa. Até para a própria documentação acontecer, batalhamos por um horário. E foi aí que citaram a maior dificuldade que passam atualmente: o cansaço que a rotina demanda. Existem alguns meios que recorrem para que isso não pese tanto, como a terapia, as longas conversas - nunca se veem brigando ou discutindo, mas conversando. Confiam muito uma na outra e isso é o que as movimenta, que mantém tudo em segurança. Se a rotina já é pesada, não querem que a relação também vire um peso. Angélica tem muito cuidado com a limpeza e cita que às vezes sente necessidade de limpar, ainda mais com os bichos em casa, não quer deixar o ambiente sujo para a convivência deles. Mesmo chegando exausta, arrasta os móveis, começa a limpeza… E a Jaque “pega junto”, em suas palavras, para limpar. Não era o que gostariam, prefeririam o descanso, mas reconhecem como a ajuda faz a diferença. Isso também fala sobre o amor, sobre poder contar, sobre não deixar de lado. ↓ rolar para baixo ↓ Angélica Jaque

  • Barbara e Isadora | Documentadas

    ↓ rolar para baixo ↓ Bárbara, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto comissária de bordo e é apaixonada por viajar. Antes de ser comissária, foi tatuadora e trabalhou bastante tempo com arte, começou pela necessidade de juntar dinheiro, foi seguindo a profissão e fez carreira, até fechar o estúdio durante a pandemia de Covid-19. Hoje em dia, a arte segue nos detalhes da sua casa, na decoração que faz, nos móveis que transformou e quando dança com a Isa pelos cômodos. Mas sua rotina mesmo, é voltada ao sonho de conhecer o mundo viajando - que realiza através do trabalho. Isadora, no momento da documentação, estava com 29 anos. Ela é atriz, narradora de audiolivros e foi bailarina por 11 anos. Sua rotina, atualmente, é trabalhar no Rio de Janeiro com a narração e edição de audiolivros, além de cuidar de diversas plantinhas em casa e querer ter cada vez mais - alimentando um sonho antigo da Bárbara de um dia morarem no campo. Isa explica que nunca desejou morar num lugar como um sítio ou campo, sempre quis o centro, mas é pelo fato de sempre morar longe da escola ou do trabalho e demorar muito tempo para chegar. Hoje em dia, ao analisar e pensar sobre, acha que seria feliz morando num lugar bem arborizado. Atualmente, elas moram juntas há cerca de um ano na Ilha do Governador, local em que Bárbara nasceu. Isa é natural do Rio de Janeiro, mas de bairros distantes da Ilha. Resolveram morar juntas depois que o namoro caminhou e pelo convívio delas/com os gatinhos irem crescendo. Antes da Isa chegar, Bárbara era muito bagunceira, não tinha uma casa com cara de lar e a bagunça era também uma das causas da sua ansiedade. Foi nessa mudança que viu sua casa virar lar, entendeu a ter mais cuidado com prazer, viu uma evolução acontecendo e hoje em dia, quando chega em casa entende a grandiosidade disso tudo. Ambas cuidam muito do seu cantinho, amam a parceria desse cuidado, dançam, fazem churrasco ouvindo pagode, vão à praia próxima, recebem amigos, curtem a casa e organizam com carinho. Foi no final de 2022 que Bárbara e Isa se conheceram. Bárbara tinha um grupo de amigas lésbicas que sempre saiam juntas, mas logo no dia que queria sair a maioria não topou e acabou indo só com uma delas num bar - este voltado ao público feminino que existia no Rio de Janeiro: o Boleia - porque estava com desejo de comer uma batata frita que só tinha lá. Quando chegou ele estava bem cheio, o clima agitado, não tinha mais a famosa batata frita, mas ela insistiu com a amiga: “Vamos ficar por aqui, quem sabe conhecemos alguém legal!”. E conheceram mesmo, o grupo de amigas que a Isadora estava. Bárbara chamou a Isa para dançar um forró e enquanto elas dançavam, no meio do barulho, até perguntou para a Isa se ela estava solteira, mas ela nem ouviu, não respondeu - e foi insistente, que bom, porque meses depois ficou sabendo que Isa não estava nem aí, não tinha muita disposição para conhecer alguém naquele momento. O bar já estava fechando e, em grupo, seguiram para outro lugar, mais calmo. Foi lá que conseguiram conversar, a Isa pensou: “Nossa, que menina interessante!” e as coisas se desenvolveram. Depois de se conhecerem nesse primeiro encontro, passaram 15 dias até conversarem novamente online e surgir o convite para se encontrarem novamente. Saíram, as coisas fluíram e seguiram se encontrando, mas confirmaram: não queriam nada sério. Dois meses depois, não tinham como negar, já estava sério. O pedido de namoro aconteceu no começo de 2023. A verdade é que tanto Bárbara, quanto Isa tinham bastante medo de se relacionar. Mas o que ajudou a enfrentar o medo foi observar o quanto eram pessoas que mereciam viver algo bom, que desejavam coisas boas para os outros e para si. Cativaram uma à outra. Acreditam que a dinâmica de relação que possuem é muito bem sucedida e Isa traz o exemplo da relação dos pais dela - conta que é a mais bonita que conhece, eles estão juntos desde a adolescência e são muito parceiros, são o maior exemplo de vida que possui. Aos poucos, ela enxerga o que deseja na relação com a Bárbara também e se orgulha muito disso. Para Bárbara, o amor sempre vai nos encontrar. É a força mais poderosa do mundo. Vai nos encontrar num animal que nos olha na rua, num café que bebemos, numa pessoa que amamos. O amor é a força criadora. É a proposta por estarmos aqui: para nos desenvolver no caminho do amor. Ela sempre teve a dualidade: ser uma pessoa um pouco solitária, mas também buscar o amor nas pessoas. No começo da relação, a mãe orientou: “Filha, vai com calma. Você se entrega muito.” E ela respondeu: “Mas a Isadora também é assim”. E a Isa também passou por isso com a mãe e com as amigas. Hoje em dia ela enxerga a relação que vive com a Isa como algo muito curativa: curando traumas, cuidando… alguém que abraça mesmo o que não é perfeito (como a questão da bagunça, citada no começo do texto) e te ajuda a melhorar. Para Isa, o amor de alguma forma é clichê. É uma transformação constante, ser a sua melhor versão para si e para o outro, para quem enxerga a melhor versão de você. Ter ternura e respeito, deixar a pessoa digerir no tempo dela, ter cuidado. Acha incrível o quanto as famílias delas se gostam e apoiam a relação delas e isso é muito valioso, acredita que o amor também mora nesses momentos.

  • Qual é a desse lambe aí? | Documentadas

    E esse lambe aí? Acreditando na potência do Documentadas para além das redes sociais e do mundo online, decidimos colocar o projeto na rua conversando com os espaços das cidades por onde passamos. Foi através das técnicas arte urbana como lambe-lambe e stickers que começamos a espalhar uma frase famosa por aqui: “Toda mulher merece amar outra mulher”, além de uma tiragem inicial de 300 fotografias de casais que já participaram do projeto, com intervenções gráficas escritas por cima e o @documentadas, identificando nosso Instagram/site. Estar na rua nos abriu a possibilidade de troca com públicos antes inalcançáveis. Passamos entre universidades, boêmias e comunidades. Se as mulheres amam outras mulheres em múltiplos espaços, acreditamos que nossa arte também deva ocupar múltiplos espaços. Tal fato foi - e está - sendo possível pela impressão/colagem por valores acessíveis (afinal, o projeto é independente) e também por permitirmos ouvir a linguagem das ruas. Seguimos monitorando os espaços colados através da localização nas redes sociais, vendo postagens com fotos que as pessoas tiram deles e quais são as reações positivas/negativas ao ver essa manifestação. POR QUE NOSSOS LAMBES NÃO DURAM NAS RUAS? Nossos lambes são arrancados, vandalizados, riscados… Isso fala sobre muitas pessoas ainda serem lesbofóbicas e terem ódio ao saber que duas mulheres podem - e merecem - se amar em público, infelizmente. Porém, em nenhum momento um lambe riscado é arrancado para que outro seja colado em cima, pelo contrário: é importante deixar ali para que o preconceito também fique escancarado perante uma manifestação de afeto les-bi. Não deixaremos de colar nossos cartazes e adesivos. O Documentadas é uma forma de combate ao preconceito, enquanto houver cartaz, cola, pincel e adesivo, estaremos colocando nossa arte na rua e ouvindo o que a rua tem a nos dizer. QUER COLABORAR COM O DOC PARA QUE ELE TENHA MAIS LAMBES POR AÍ OU NOS CHAMAR PARA UMA EXPOSIÇÃO EM ALGUM LOCAL? ENTRA EM CONTATO PELO SITE OU NO E-MAIL: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM

  • Maju e Alícia | Documentadas

    A história da Maju e da Alícia fala muito sobre aquele período que vivemos quando estamos descobrindo quem somos, ainda entre a pré-adolescência e a adolescência, elas se conheceram e vivem até hoje juntas, enfrentando muitos desafios (que outros adolescentes nem sonham em viver) e, principalmente, se fortalecendo juntas. Maju hoje em dia tem 17 anos e está se formando no terceiro ano do Ensino Médio, Alícia tem 16 e está no primeiro ano. Mas tudo começou bem antes, quando Alícia tinha cerca de 12 anos de idade e estava numa praça em Rio das Ostras, matando o tempo, com uma amiga. Nessa praça, diversos meninos andavam de skate, entre eles tinha uma menina, a Maju. No primeiro momento, Alícia não entendeu se a Maju era menino ou menina, perguntou para a amiga (que a conhecia, mas que também não sabia dizer o que ‘era’ a Maju) e isso automaticamente despertou uma curiosidade enorme na Alícia, que fazia de tudo para observá-la. Quando a Maju entendeu que estava sendo observada, quis chamar atenção. Caiu logo de bunda no chão. Mas levantou, se reergueu e foi lá falar com as meninas. Se apresentou para a Alícia e disse: vem cá, deixa eu te mostrar uma pessoa muito linda aqui de Rio das Ostras - e então entrou no Instagram dela mesma, curtiu todas as suas fotos (pelo perfil da Alícia) e depois saiu, andando de skate de novo. Nesse dia, a Maju levou uma bronca da mãe dela por ter faltado à fisioterapia, mas a resposta em desculpa que ela deu, foi: eu conheci a menina mais bonita da cidade. A Maju é natural de Goiás, mas está no Rio de Janeiro - mais especificamente em Rio das Ostras - há mais de 9 anos. Já a Alícia, é do Rio de Janeiro, capital, mora em Rio das Ostras mas intercala com alguns períodos no Rio, visitando familiares. Depois que elas tiveram o primeiro encontro na praça, a Alícia passou seis meses morando no Rio de Janeiro. Nesse período ficou olhando o Instagram da Maju, mas não interagiram nenhuma vez. Quando ela voltou para Rio das Ostras, começou a namorar um menino (esse que, a pediu em namoro na frente da escola toda, fazendo um vídeo que viralizou o Brasil - um namoro super arranjado com o auxílio da mãe) e duas semanas depois ela e a Maju se encontraram no aniversário de uma amiga em comum. Nesse primeiro encontro, a Maju tentou ficar com ela, mas não tinha como, ainda mais ela estando num namoro tão recente… então ela desviou de todas as formas. Depois disso, começou-se uma amizade, então elas saíram muitas vezes. A Maju dava em cima dela sempre, isso era um fato, mas era quase uma brincadeira também porque elas sabiam que enquanto estivesse namorando não ia rolar. O namorado da Alícia, enquanto isso, morria de ciúmes. E em casa, a Alícia não parava de falar na Maju, deixando a mãe dela muito desconfiada, dizendo: “Tu não vai se apaixonar por ela não, hein, Alícia??!!”. O tempo passou e o relacionamento da Alícia foi ficando muito difícil. Ela estava se sentindo numa relação completamente invasiva, tóxica, e todas as vezes que tentava terminar o namorado não a deixava. Ele simplesmente dizia que não permitia. Numa noite, foram num aniversário e ela já tinha tentado terminar três vezes, a situação estava péssima, um amigo dele passou mal e ele foi embora. Alícia ficou no aniversário, a Maju estava também e num momento determinado da noite elas decidiram dar um basta, chutar o balde: se beijaram. Porém, como era escondido, numa confusão a Maju fingiu que passava mal, a Alícia fingiu que ajudava, elas desligaram a luz da festa toda sem querer e aí virou confusão de verdade. Depois delas se beijarem, a Alícia viu a Maju dando em cima de outra menina e então ficou muito triste. No fim da festa, já com o dia amanhecendo, o namorado (ou quase ex?) fez questão de buscar a Alícia e ela não quis ir embora com ele, então ele gritou e brigou com ela. Quem deu suporte, novamente, foi a Maju. Depois dessa situação eles terminaram, afinal, não tinha como manter esse relacionamento. A Alícia passou um tempo breve no Rio de Janeiro e quando voltou para Rio das Ostras voltou a se encontrar com a Maju. Nesses encontros, ela entendeu que gostava de verdade da Maju, e isso, naquela época, era mais um problema do que algo bom. Ambas não sabiam como lidar com a situação, sabiam que a Maju não buscava relacionamentos, mas também já estavam muito envolvidas. Sentiam que precisavam encarar a situação. Decidiram seguir se encontrando, mesmo sem ninguém saber. Com o tempo, os amigos que sabiam, não torciam para que elas ficassem juntas: não confiavam que elas seriam fiéis uma a outra, ou melhor, incentivaram que não fossem - e assim não haveria relação saudável que se sustentasse. No período em que poucos apostavam no relacionamento delas, um pedido de namoro chegou a acontecer. Namoraram, mas entre situações caóticas, sentiam que não se acertavam. A mãe da Alícia descobriu, fez um escândalo na porta da escola, a agrediu. Tudo ficava muito difícil para que elas se encontrassem e nisso, a pandemia de Covid-19 começou. Elas chegaram a ficar um tempo distantes por conta da quarentena, mas não tanto tempo, como nas grandes cidades, pois lá os encontros foram voltando a acontecer aos poucos. A Alícia, junto com a família dela, abriu uma hamburgueria, e esse local virou um ponto de encontro... porém, todas as intrigas externas foram o bastante para que o namoro não seguisse em frente. Elas terminaram, ainda, em 2020. Foram cerca de 9 meses distantes. Nesses meses, por completa influência familiar, Alícia se relacionou com um menino extremamente abusivo, agressivo, que forçava presença. Ela chegou a pesar menos de 40kg. Ele, sabendo que no fundo ela ainda gostava da Maju, ameaçava bater na Maju quando a encontrava na rua. Alícia fez de tudo para sair desse relacionamento e quando conseguiu, conversou com a Maju. Elas se acertaram, mas não enquanto um casal, apenas voltaram a conversar. Nisso, a Maju encontrou a mãe da Alícia, tomou coragem e decidiu pedir permissão: para num futuro, se tudo desse certo, elas voltarem a se relacionar. Ela respondeu que se a Alícia estivesse feliz, ela estaria feliz também - porque ela percebia que o jeito que a Alícia olha para a Maju é diferente - e no fim elas se abraçaram. Elas voltaram a se envolver e a Maju pensou em a pedir em namoro novamente e dessa vez com tudo o que o brega permite: balões, chocolates, etc. Aconteceu! Porém, infelizmente, ainda passaram por muitas situações horríveis envolvendo o ex. Ele invadia a casa da Alícia, quebrava as coisas e obrigava ela a manter a relação com ele. Foi numa atitude extrema da mãe dela em expulsar ele de lá para que finalmente isso acabar. Porém, esses conflitos já tinham afetado demais a relação da Alícia com a Maju, era difícil que as confusões não as envolvessem. A Alícia seguia pensando na Maju e no relacionamento delas, enquanto a Maju, mais uma vez, se afastara. No natal, elas voltaram a se falar, por conta de uma coincidência. E assim, voltaram de verdade. Conversaram, se encontraram, conversaram também com suas famílias, decidiram que, se era para estarem juntas, dessa vez, era para ser de um jeito diferente - e com apoio de todos, com maior confiança, diferente de todas as outras tentativas. Hoje, acreditam que deu certo. No último ano passaram diversos perrengues que as fizeram crescer e se fortalecer enquanto um casal, juntas, e também enquanto uma família. Alícia e Maju deram apoio às suas mães, chegando a morar com a mãe da Alícia, todas num apartamento, num momento difícil. Alícia também morou com a mãe da Maju. E todas se dão muito bem, valorizam o relacionamento das filhas. Nesse último ano de estudo, finalmente estão na mesma escola. Os planos são, assim que concluírem, se mudarem para o Rio e estudarem Belas Artes. Hoje entendem que a confiança e a comunicação mudou muito e que isso é o principal para que o relacionamento delas funcione. Antes, tudo se quebrava, principalmente com 'picuinhas' ou comentários alheios, hoje, não há nada entre elas que não possa ser conversado. A intimidade que elas criaram juntas não há como ser quebrada e também faz com que elas não se julguem. Acreditam que, pelo tanto que já passaram uma ao lado da outra, o que viram entre seus momentos mais frágeis faz com que também possuam muita liberdade para serem quem são, sem medo. Antes, pensavam muito sobre serem perfeitas, buscavam perfeição, hoje aceitam seus corpos e a si como são. Isso também faz com que a confiança na relação mude, a segurança, a base no amor. Quando entendemos a recapitulação de tantas coisas que viveram sendo tão novas, estando juntas, elas entendem que esse amor é o que importa. A forma que se amam e que se apoiam é o mais importante nesse processo. E se surpreendem, o quanto isso é maneiro. Visualizar a linha do tempo e entenderem que seguem aqui - recapitulam o quanto pensaram em desistir porque era muito difícil se relacionar, mas que hoje é muito legal ver o quão bonito é o que criaram. E, então, sonham com novos passos: a mudança, um casamento, uma adoção. ↓ rolar para baixo ↓ ♥ manda uma mensagem de apoio aqui ☼ entre em contato com elas por aqui! ☺ vem construir esse projeto com a gente! < Alícia Maria Júlia

  • Quem faz o doc? | Documentadas

    QUEM FAZ O DOCUMENTADAS ACONTECER? O Documentadas é o primeiro banco de registros sobre o amor entre mulheres. Suas histórias são acolhidas através da escuta e da fotografia - essas, feitas por mim, a Fernanda. Idealizei o projeto em 2020 e desenvolvo ele desde então. Sou fotógrafa, fotojornalista, artista e entusiasta a mudar as visões das pessoas sobre o mundo. O .doc, hoje, representa um banco de dados online, disponível para todas e quaisquer pessoas interessadas na proposta de conhecer mulheres que amam ou amaram outras mulheres na historiografia. Acredito que o Documentadas não é feito apenas por mim, mas por diversas pessoas que, ao longo dos meses, se dedicaram a doar um valor simbólico para que ele seguisse acontecendo e chegando em cada vez mais casais. Sem essas doações, o projeto jamais seguiria existindo. Portanto, reafirmo: o Documentadas é nosso. Um projeto vivo que segue em transformação. Com essas doações o projeto já chegou em mais de 310 mulheres e 10 estados brasileiros. São as colaboradoras e os colaboradores: Adriana Bueno Valente Alana Laiz Alana Palma Pereira Alessandra Orgando Alessandro dos Santos Alice Cordeiro Alice Sbeghen Tavares Aline Vargas Escobar Allana Fraga Gonçalves Botelho Alyce Carolyne Porto Leal Amanda Fleming Batista Amanda Garcez Amanda Moura Ana Carolina Araujo Soares Ana Carolina Costa da Silva Pinheiro Ana Carolina Cotta Ana Carolina de Lima Ana Carolina de Souza Santos Ana Cecília Resemini Esteves Ana Clara Bento Ruas Ana Clara Piccolo Ana Clara Tavares Ana Flávia Pereira Ana Júlia Cardoso Daer Ana Milene Ana Parreiras Ana Paula Boso Ana Paula Costa Roncálio Ândria Seelig Ane Salazar de Aguiar Anelise Seren Angela Lacerda Anne de Araújo Baliza Anne Mathias Antônia Magno Aria Maria Mendes de Carvalho Augusto Pellizzaro Barbara Fadini Bárbara Fernandes Vieira Dias Beatriz Costa Nogueira Bianca de Souza Rodrigues Francisco Bianca dos Santos Zrycki Bianca Hamad Choma Bibiana Nodari Borges Brenda Eduarda Bruna Dantas Bruna Lourenco Reis Bruna Miranda do Amaral Camila Fernanda da Silva Camila Lobo Camila Monteiro de Oliveira Camila Nishimoto Camila Pereira Silva Camila Petro Camila Santiago Camilla Borges da Costa e Mello Caren Laurindo Carla Correa Carla Murielli Vieira Crispim Carolina Pasin Carolina Peres Caroline Barbosa Rodrigues Caroline Brum Caroline Corrêa Cecilia Couto Cecília Vieira de Paiva Cindy Lima Clara Campos Martins Clara Silva Claudio Daniel Tenório de Barros Cleiciane da Silva Figueiredo Cleiciane Figueiredo Cleicy Guião Cristiane Becker Damares Mendes Rosa Dandara Gonçalves Daniela Maldonado Daniele Silva Caitano Débora Queiroz Denize Dagostim Denyse Filgueiras de Alencar Diego Tomasi Dom Bittencourt Edilene Maria da Silva Elins Daiane Valenca Elis Lua Elisa Tenchini Elisabete Pereira Lopes Ellen Melo Santos Emanuelly Alves dos Santos Emily Blanco Fagundes Estela Caroline Freitas Evelyn Pereira Fabi de Aragão Fabiana Aparecida Peres Felicia Miranda Fernanda B Cardoso Fernanda Carrard Belome Fernanda Cristina Fiore Lessa Fernanda Frota Correia Fernanda Gomes Bergami Fernanda Lopes Fernanda Marques dos Santos Fernanda Uchida Francini Rodrigues da Silva Fredy Alencar Peres Colombini Gabriel Py Gabriela Biazini Talamonte Gabriela Fleck Gabriela Mancini Mainardes Gabriela Montenegro Gabrielle Schmidt Barbosa Gabrielle Secco Sampaio Geovana Maria de Lima Gomes Gilian Rodrigues Ventura Gisele Basquiroto Giulia Baptista Gizelle Cruz Glauciene Nunes Gloria La Falce Glória Lafalce Graciliene Nunes Guacira Fraga dos Santos Hailla Sianny Krulicoski Souza Sena Heloisa Silva Neves Henrique Standt Iana Aguiar Iana Oliveira da Silva Iasmim de Oliveira Isabela Arantes Costa Isabela Cananéa Isabela Damasceno Isabela Pereira Silveira Isabella Acerbi Isabella Bueno Isabella Milena Nascimento da Cunha Isabelle Rocha Nobre Isabelle Rosa Furtado Pereira Izadora Emanuelle Maizonetti Jady Marques Jamyle Rocha Silva Janaina Calu Janaina Dutra Janaina Monteiro Jéssica Bett Jéssica Brandelero Jéssica de Almeida Fernandes Jéssica Dornellas Jéssica Gladzik Jessica Rosa Trindade Jessica Soares Garcia Jéssica Spricigo Joana Cardoso Jose Schwengber Joyce Marinho Jucineia Beatriz Julia Alves Pinheiro Julia Barros Julia Caetano Julia Câmara Julia de Castro Barbosa Julia Marques Tomaz Julia Oliveira Silveira Júlia Rodrigues Júlia Silveira Barbosa Juliana Figueiredo Juliana Poncioni Juliana Scotti Juliane Gomes Kamilla Siciliano Vargas Kamylla Cristina Santos Karine Veras Karoline Camargo Rocha Karoline Camargo Rodrigues Katia Alves de Melo Laira Rocha Tenca Laís Tiburcio Lara Beatriz Nascimento Larissa Sayuri Laura Luiza Rodrigues Nogueira Laura Serpa Palomero Layssa Belfort Letícia Alves Morais Santos Letícia Moreira das Neves Letícia Ribeiro Caetano Letícia Rocha Lia Tostes Liane Mendes Lilian Dina Linnesh Rossy Lorena Vidal Louise dos Santos Martins Louise Valiengo Luana Corrêa Tourino Luana de Lima Marques Luana Moreira Luana Ramalho Martins Luana Riboura Luciana de Sousa Santos Luciana Isabelle Luciana Patrício Luisa Rabelo Cruz Luiza Chaim Luiza Eduarda dos Santos Luíza Vieira Luiza Vieira Moura Maiara Scheila Freitas Santos Maíra de Oliveira Sampaio Maíra Godoy de Carvalho Manuela Almeida Seidel Manuela Teteo Natal Maria Clara Pimentel ATÉ AGORA, 317 PESSOAS JÁ COLABORARAM Maria de Fátima Piccolo Maria Gabriela Medina Maria Gabriela Schwengber Maria Geyze Andrade Barbosa Monteiro Maria Vitoria Candiotto Mariah de Faria Barbosa Mariana Coutinho Mariana Ferreira Dias Mariana Gomes Mariana Gomes dos Santos Mariana Matias de Sousa Mariana Souza Pão Mariane Mendes Lima Marianna Novaes Martins Marília Alves Marina da Silva Maristela Valdivino dos Santos Maurício Oliveira Mayara de Souza Santos da Silva Melissa de Miranda Mérope Messias Miguel Angel Milena Abdala Milena dos Santos Ferreira Milena Pitombo Monique Barbosa Costa Monique Silva de Figueiredo Moreira Natali Alves Lima Natalia Correa Montagner Natalia da Silva Brunelli Natalia Kleinsorgen Natasha Torres G Morgado Nathalia Nascimento Nathalia Silva Nascimento Neuza Ferreira Rodrigues Paloma Gomes da Silva Paula C Vital Mattos Paula Silveira Petra Herdy Pollyana Carvalhaes Ribeiro Priscila Ribeiro Priscilla Bitinia de Araujo Amorim Rafael da Silva Pereira Rafaela de Carvalho Marques Raquel Dantas Rayanne Cristina Nunes Moraes Rayssa Padilha Rebeca Fortunato Santos Ferreira Rebecca Pedroso Monteiro Rebecca S Morgado Bianchini Rejane Rodrigues Renata Canini Renata Del Vecchio Gessullo Renata Martho Renata Santos Lima Maiato Renata Silveira Vidal Reybilis Ismaryen Blanco Espin Roberta Teodoro de Oliveira Barbosa Sabrina Alves de Santana Samantha Moretti Sâmela Amorim Aquino Santiago Figueroa Sarah Nadyne de Codes Oliveira Sharon Werblowsky Simone Ambrósio Sofia Amarante Sofia Conchester Sophia Chueke Stephanie Estrella Taciane Duarte Dias Taina Fernanda Moraes Taina Oliveira Talita Marques Talyta Mendonça Tamiris Ciríaco Társila Elbert Tayami Fonseca Franca Tayana Costa Tercianne de Melo Ferreira Thabatta Alexandra Possamai Thais Agda Rodrigues da Cruz Primo Thais Cristine V Souza Thaissa Mezzari Thatiely Laisse de Queiroz Silva Thayanne Ernesto Thaysmara de S. Araújo Triscya Tamara Lima de Souza Ramos Ursula Inara Mayca Vanessa Pirineti Vania da Silva Victoria Bandeira Moreira Victoria Catharina Dedavid Ferreira Victoria Maciel Farias Victoria Mendonça Vitória Maria de Oliveira Vivian Franco Viviane Lafene Viviane Lima Viviane Otelinger Viviane Rangel Wanessa Gomes Wanessa Oliveira Weila Oliveira Noronha Yasmin da Cunha Martins Yasmin de Freitas Dias FAÇA PARTE DESSA HISTÓRIA. DOE ATRAVÉS DO NOSSO PIX: FERNANDA@DOCUMENTADAS.COM Fernanda Piccolo Huggentobler - Idealizadora

  • Elis e Vandréa

    Fui até a casa da Elis, da Vandréa, do Akin e da Aluá, num final de semana de junho em São Paulo. Quando cheguei, sendo recepcionada pelas crianças já contando histórias e mostrando as plantas, cômodos e coisas da casa, me deparei com a alegria contagiante do que iriam fazer aquele dia: balões e decorações para o Dia de São João, que comemoraram com uma grande festa junina. Tomamos um café e depois as fotos começaram, com todos muito empenhados na decoração. Akin e Aluá são crianças afro-indígenas, do povo Xukurus, assim como Elis e possuem muita clareza de pertencerem ao povo indígena. A família é encantada pelo carnaval, pela cultura popular, adoram os bichos e as simbologias. Estudam tupi guarani online, além de frequentar espaços culturais em São Paulo. Adoram acolher amigos e parentes em casa. Durante a nossa conversa, inclusive, contam que vão receber amigos do povo Pataxós que estão chegando para realizar um trabalho com as crianças na escola. Para Vandréa, o amor está nessa forma que o cotidiano se reinventa, nos detalhes desenhados, pintados (que inclusive representam os colegas deles cada um como um pássaro) no momento que cozinham as comidas que as crianças gostam, na forma que constroem o lar. ​ Elis é natural de Recife, mora em São Paulo desde 2007. No momento da documentação, estava com 36 anos. Trabalha enquanto professora de educação infantil na rede pública da cidade e também desenvolveu um projeto sobre saberes ancestrais com os seus alunos, onde cada um leva a história da sua família. Elis fala sobre a xenofobia e o racismo que sofreu quando chegou e que por isso faz de tudo para que as crianças se sintam parte das suas culturas originárias e não se sintam excluídas na cidade. Assim, usam muito os grafismos, desenham, pintam as roupas, cozinham juntos e fazem esse resgate cultural. Vandréa é natural de São Paulo. No momento da documentação estava com 42 anos, trabalhando enquanto médica de família e comunidade, que acredita ser uma forma humana de olhar para a família. Trabalhou a maior parte da sua vida no SUS, hoje em dia está em um hospital privado. Akin e Aluá estão com 4 anos no momento da documentação. Possuem uma diferença de idade de alguns meses, sendo Akin nascido em outubro e Aluá em janeiro. ​ Quando Elis e Vandréa se conheceram, ela trabalhava no terceiro setor com formação de professores na área de direitos humanos, nos eixos de formação de direitos sexuais e reprodutivos, políticas públicas de juventude, área de educação e gênero. Fazia um trabalho de acompanhar alguns estados, e não imaginava que Vandréa trabalhava com coisas semelhantes, também viajando e acompanhando estados. Chegaram a fazer viagens que envolviam amigos em comum, mas Elis viajou para trabalhos com indígenas e Vandréa para trabalhos com famílias ribeirinhas. Foi num aplicativo de relacionamentos que deram ‘match’, mas já tinham muitos amigos em comum por conta desses trabalhos. Sentem que cruzavam suas histórias o tempo todo, por estarem nos lugares com essas pessoas em comum, mas que ainda não tinham se esbarrado. Naquela época, Elis já estava em processo de adoção. Desejava adotar individualmente, vivia enquanto uma mulher solteira que sempre desejou a maternidade. Quando se encontraram pessoalmente e começaram a se apaixonar uma pela outra, Vandréa estava procurando um apartamento para se mudar e ao conhecer o prédio que a Elis morava, se encantou. Decidiu alugar um apartamento no mesmo local, então moravam em andares de distância. ​ Mesmo morando no mesmo prédio, elas não se viam com a frequência que desejavam. Trabalhavam muito nas missões em comunidades quilombolas na Bahia, então começaram um relacionamento quase que à distância. Nessa época, já falavam muito sobre a maternidade. Elis decidiu encerrar o processo de adoção solo, uns meses depois elas marcaram uma consulta numa clínica de fertilização e decidiram morar no mesmo apartamento, já não fazia mais sentido os dois aluguéis mensais. Tiveram que lidar com a papelada na hora da gestação e entenderam a importância do casamento. Vandréa não queria só uma união estável, se fosse para estarem casadas, desejava uma festa e sentia que elas mereciam a celebração. Mesmo sem dinheiro, fizeram o evento acontecer e os amigos ajudaram em tudo - a festa aconteceu num terreiro de umbanda, os padrinhos eram os amigos em comum (que também trabalhavam com comunicação e fizeram as mídias do evento) e tudo foi organizado em 3 meses, de forma muito autónoma. A cerimônia aconteceu em 2017. ​ Logo depois do casamento, as duas engravidaram. Vandréa não queria ceder, achava uma loucura a ideia das duas ficarem grávidas ao mesmo tempo, mas com o tempo se convenceu. Por nunca menstruarem juntas, ela faria o processo primeiro, depois a Elis. Quando finalmente menstruaram juntas, entenderam que era um sinal. Foi inclusive no aniversário da Vandréa que deram início ao processo que deu certo - as duas engravidaram. Um tempo depois, viajaram de férias e durante a viagem Elis teve um sangramento muito forte, perdendo o bebê. Foi um baque muito grande, a perda reviveu outros lutos que já teve na família, ficou muito mal. Era difícil viver a dicotomia do luto e da outra vida se gerando, as pessoas em geral não entendiam e sempre tentavam consolar dizendo ou que era muito pequeno, como se não fosse uma vida ainda, ou para valorizarem o bebê que estava na barriga da Vandréa. Elis não desistiu, tentou novamente (e por isso o Akin e a Aluá possuem o intervalo de idade). Conseguiu engravidar, eram gêmeos, mas um não se desenvolveu nessa nova gestação. Por fim, nasceu Aluá, e são muito gratas pelas gestações e pelos filhos maravilhosos que possuem hoje em dia. ​ Elis enxerga o amor como o grande construtor do mundo que elas querem para os filhos. Seja na militância no trabalho, na vida, em tudo o que fazem tentando tornar o mundo melhor, é lá que o amor está. Deseja que as pessoas sejam mais humanitárias - e acredita ser esse o fator que aproximou elas desde o primeiro momento. Seus propósitos se unem, querem mudar as coisas na mesma proporção e sabem que podem contar uma com a outra. Nessa confiança está o partilhar das felicidades e das dores. Citam situações em que chegam do trabalho, falam o que aconteceu no dia, choram, riem, se indignam juntas. Compartilham sobre racismo, questões políticas, se movimentam. Elis explica que “A liberdade só é possível quando conseguimos abrir as asas sem ferir os outros” e que isso nem sempre é possível ou fácil. Aprende muito com as crianças e com o quanto elas estão dispostas a serem encantadoras. Por fim, entendem que o processo de educar é muito desafiador, como fazer com que não sejam machistas, racistas, que tenham respeito. Falam sobre o Akin ter cabelo grande, unha colorida, e preparam ele para enfrentar o machismo que vai existir da porta para fora de casa. Além disso, educar é também preparar os professores e a própria sociedade para lidar com a liberdade deles. ↓ rolar para baixo ↓

  • Lia e Thalita

    Lia e Thalita, quando se encontraram, sentiam que se conheciam há muito tempo - desde os gestos que tiveram uma com a outra, entendendo limites, carinhos e espaços, até o respeito e a paciência dos processos que viviam. Elas contam sobre a diferença de idade acabar quase não interferindo, pois entram em um equilíbrio visto que a Lia tem o jeito mais jovem e a Thalita, pelas vivências que passou, amadureceu muito rápido. No dia a dia, vivem diversos detalhes juntas: jogam badminton, andam de bicicleta, possuem uma rotina dentro de casa através do home office, se conectam intrinsecamente. Para Lia, o amor está em tudo; em todos os relacionamentos, no trabalho, na relação, na música que elas ouvem, nas coisas que fazem juntas… Sua percepção de amor esteve sempre com ela, nunca viu diferenças num amor entre homem-mulher, dois-homens, duas-mulheres, mesmo que só tenha vindo a se relacionar com uma mulher na vida adulta. Então, por mais que entenda a posição política disso, nunca deixou de ter o amor como uma ação presente em tudo o que ela naturalmente faz. Por mais que esse amor esteja nas ações, a relação com a Thalita trouxe algo diferente para a vida da Lia: o planejamento. Ela não era uma pessoa de fazer planos, tinha muita dificuldade de se ver no futuro, mas com a Thalita foi completamente diferente. Elas se apaixonaram rápido, namoraram rápido e foram construindo planos de vida juntas. Hoje, se sentem realizadas quando percebem que alguns já estão concretizados. ​ ​ Thalita tem 26 anos e é natural de Jaborandi, um município do interior da Bahia. Saiu de lá ainda na adolescência e se mudou para Brasília para ter uma base melhor de estudos. Sente que nunca se encaixou completamente em Jaborandi, pois é uma cidade pequena, conservadora, que vive de agricultura. Em Brasília, começou a trabalhar com restaurantes e decidiu que gostaria de se mudar para São Paulo. Chegou a fazer a mudança, ficou pouco tempo, pois era difícil se sustentar, fez uma viagem por diversos lugares do nordeste trabalhando em bares e na praia, até que voltou para São Paulo, decidida a ficar e seguir trabalhando como garçonete. Seguiu alguns anos assim, até recentemente fazer sua transição de carreira para Desenvolvedora Front-end e está trabalhando com qualidade de software. Ela fala como foi bom fazer a transição, voltar a estudar, viver uma rotina semanal (porque antes não havia espaços nos finais de semana ou feriados) e como fez bem para o relacionamento das duas, também. Lia tem 37 anos, é natural de Santo André, cidade localizada no ABC Paulista, em São Paulo, mas reside na capital há muitos anos. Ela trabalha enquanto Designer UX-UI em uma grande empresa. Thalita e Lia se conheceram no bar em que a Thalita trabalhava, em 2019. Nessa época, a Lia era casada e tinha um salão de beleza, que ficava relativamente próximo ao bar, então era um local bastante frequentado por ela e pelas amigas. Toda vez que ela ia ao bar, percebia que a Thalita não atendia a mesa dela, mas a seguia no Instagram, então achava isso minimamente engraçado - percebia uma certa vergonha/nervosismo vindo da Thalita. Na versão da Thalita, pela primeira vez que viu a Lia chegando, ficou toda encantada e serelepe, quis logo saber quem era. Quando descobriu que ela tinha um relacionamento, desistiu de tudo e ficou triste. Nisso, o tempo foi passando, elas sempre se viam no bar, mas ela nunca teve coragem de conversar com ela ou de atendê-la. ​ Num dia, a pessoa com quem a Lia se relacionava foi ao bar sozinha e acabou fazendo amizade com a Thalita, e, quando em outra data a Lia chegou no bar viu a intimidade das duas e achou interessante a situação. Acabou que, numa falta de comunicação, aconteceu uma situação um tanto quanto desagradável inicialmente, mas essa situação fez com que a Thalita e a Lia começassem a conversar pela primeira vez. A partir daí, em uma nova oportunidade, a Thalita frequentou o salão que a Lia era dona (mesmo que ela não estivesse lá no momento), elas conversaram pelo Whatsapp e começaram um contato mais frequente. Neste momento, a Lia passava por uma crise muito grande no casamento, que já chegava próximo do término, e num dia, depois de uma briga forte (por motivos que não tinham relação com a Thalita, obviamente, até porque nada tinha acontecido), a Lia resolveu sair de casa. Ao sair, estava conversando com a Thalita pelo celular. Chamou um amigo e foi até o bar em que ela trabalhava. Lá, eles ficaram até o bar fechar. Elas conversaram - contam que tremiam como adolescentes - e a Thalia comenta que nunca sentiu algo como o que aconteceu naquele dia. Ela chamou a Lia para fumar (sendo que ambas não fumavam, mas era uma desculpa para estarem juntas na rua) e foi assim que se beijaram pela primeira vez. Lia conta que era como se a Thalita já conhecesse ela há tempos, desde o começo. E, já que estava fora de casa, foram para o apartamento em que a Thalita morava. Neste momento, a Lia foi sincera com a ex-companheira sobre o local que estava indo. De certa forma, não queria que as coisas acontecessem assim, preferiria passar pelo divórcio corretamente antes de tudo acontecer, mas foi algo muito mais forte e, então, ela preferiu ser sincera desde o primeiro momento - tanto que, ela e a Thalita, a partir daí, não se desgrudaram mais. ​ Por mais que elas estivessem começando algo novo, precisamos considerar que não é nenhum pouco fácil sair de uma relação na posição que elas estavam - a Lia tinha um empreendimento, passou por uma série de abusos e, para embarcar em um novo relacionamento foi preciso muito cuidado. A Thalita, por sua vez, já viveu relacionamentos difíceis há anos atrás e estava solteira, num momento completamente diferente, um pouco mais estável, então conseguiu (e se disponibilizou para) ser um apoio neste processo. Com o tempo, passou a viver muito na casa da Lia. Foi levando algumas coisas para lá, mas seguiu dividindo apartamento. De qualquer forma, sempre se sentiu muito “em casa” na casa da Lia, e ver lá como um lar, junto com as gatas e com o ambiente, fez ela sentir cada vez mais vontade de ficar. A Lia sempre fez questão de que ela estivesse à vontade também, então juntas emolduraram quadros e passaram a redecorar as coisas, até que a mudança foi definitiva. Com o tempo passando, além do lar que representa em detalhes tudo o que são (como os cafés da manhã, os recadinhos, as decorações e as gatas), também fizeram diversas viagens juntas: coisa que elas entendem como uma reconexão. Qualquer viagem faz com que voltem muito mais íntimas, conectadas e estabilizadas. ​ Durante a pandemia, elas se casaram. Foi num cartório, quando tudo ainda estava fechado, usando máscara e face shield, só com os padrinhos presentes, que assinaram os papéis. Antes de sair de casa, Lia fez uma maquiagem na Thalita e uma arrumou a outra. Depois do cartório almoçaram juntas e ao anoitecer fizeram uma live com os convidados - cerca de 300 pessoas estiveram na chamada ao vivo festejando-as. Contam o quanto foi legal, simbólico e divertido. Num momento como aquele, na pandemia, todos estavam trancados em casa sem perspectivas. Entrar numa chamada e celebrar o amor durante algumas horas foi um sopro de esperança. Elas choraram muito, jogaram buquê fake, cortaram bolo, ganharam muitos presentes e souberam aproveitar de verdade! E, um tempo depois de casadas, oficializaram com uma viagem de lua de mel para a Bahia. ♥ Por fim, fizeram questão de serem fotografadas pelas ruas de São Paulo - como fotos de casamento - como uma maneira de falar sobre a importância do nosso amor ocupar as ruas, estar em público. Não há como fecharem os olhos para o que acontece nas ruas e por isso estão sempre se envolvendo politicamente. Na pandemia, por morarem no centro da cidade, viram de perto como tudo piorou. Não há como esconder ou fechar os olhos para isso, e ao sair de casa elas não conseguem não se sentir afetadas pela falta de políticas públicas para a população. Seus posicionamentos também representam que enquanto não mudar para os outros, para toda a população que segue na rua, para cada povo marginalizado, também não mudará para elas. ↓ rolar para baixo ↓ Thalita Lia

  • Julia e Vitória

    Júlia e Vitória são apaixonadas por moda, saúde da mulher, conversas longas, besteiras que fazem rir por horas, gatos e pela vida social com as amigas na cidade que moram, Campinas, interior de São Paulo. Possuem uma história de vida totalmente diferente: Júlia adora debater política e acredita que os atos políticos estão presentes em tudo o que fazemos. Sempre foi instigada pela família a ser uma pessoa argumentativa, questionadora. Vitória, por sua vez, vem de uma família muito conservadora. Frequentou a igreja até a adolescência, o pouco que sabia sobre política não achava que era tão importante - e era em ano eleitoral. O relacionamento significa uma revolução para as duas. Vitória aprendeu a olhar tudo sob uma nova perspectiva, reconheceu a importância dos debates e do pensamento crítico, enquanto Júlia aprende a compreender sua praticidade: nem tudo é tão direto, tão incisivo. Precisa entender o tempo das pessoas de processar, enfrentar e saber lidar com seus processos. Júlia conta que sempre viu o amor no lugar de incentivo, de afeto, de impulso e entende que amar é sempre algo coletivo, nunca individual. A família sempre incentivou (a ler, escrever, ouvir músicas, ter contato com o mundo). Depois da separação dos pais ficou cada vez mais próxima da mãe e percebe que sempre foi fácil entender as relações de gênero, o cuidado que uma mulher tem por outra. Sendo assim, não consegue separar o amor de algo político, sendo ele o familiar ou o romântico, que possui pela Vitória - e quando cita ela, só consegue dizer o quanto a admira, o quanto é fácil amá-la, se orgulha da força que possui e do quanto estão crescendo juntas. Finaliza com um “que mulher foda!.” ​ Vitória, no momento da documentação, estava com 25 anos. É natural do Paraná, mas mora em Campinas, São Paulo, desde criança. Trabalha enquanto fisioterapeuta, focada na saúde da mulher, adora falar sobre sexualidade e tudo o que envolve o corpo feminino. Juntas conversam muito sobre os assuntos que envolvem sua profissão, dentre eles o parto. Ressaltam a importância de ter mulheres que estudem sobre mulheres porque até hoje a maioria das coisas que temos foram homens que decidiram. Falando sobre isso, Vitória faz o recorte sobre o quanto poder conversar e enxergar esses debates no relacionamento acrescenta na vida dela: impulsiona e demonstra o quanto querem crescer em conjunto. Júlia, no momento da documentação, estava com 34 anos. É natural de Campinas, São Paulo e trabalha com comunicação social, unindo o jornalismo e relações públicas, num ateliê. Conta que pela primeira vez pode ser ela mesma num ambiente de trabalho e como isso tem sido gratificante. Juntas elas adotaram um gato - o Kovu - e dividem vários hobbies em comum, entre eles o amor pela moda. Acreditam que a forma de se vestir também é um ato político. Amam performar feminilidade e o “choque”/a reação que as pessoas demonstram ao saber que são duas mulheres muito femininas se relacionando amorosamente. ​ Foi em 2020 que elas se conheceram num bar. Não tinham muitas coisas abertas por conta da pandemia de Covid-19, mas foram num aniversário e se viram. Na época, Vitória estava se envolvendo com uma pessoa, mas lembra de ter visto a Júlia de tranças, dançando. Num segundo encontro, se esbarraram e ficaram, mas tudo foi muito confuso, passaram a conversar, Vitória viu a Júlia ficando com uma pessoa um tempo depois, chorou e entenderam que estavam apaixonadas uma pela outra. Ficaram mais algumas vezes, até que no começo de 2021 começaram o relacionamento. Foi um início difícil por conta da Vitória morar com os pais e eles não saberem da orientação sexual dela, além de não darem muita abertura para a conversa. Porém, estava cada vez mais insustentável ela não se sentir bem dentro de casa. Por mais que o amor entre a família exista, ela tinha medo de como iriam reagir, e também de como iria sair de casa, se sustentar… Vivia sob constante pressão. Aos poucos se estabeleceu financeiramente, procurou uma casa e foi criando coragem. Contou para a família num sábado, fez a mudança na terça e manteve a relação da melhor forma possível. Hoje, segue no mesmo lar, com o gatinho e com a Júlia visitando o tempo todo. ​ Vitória fala sobre como a religião é difícil, mas sempre fez parte do que ela foi. Nunca se julgou, nunca achou que fosse um erro ou uma aberração ser quem ela é, diferente do que pregam. Em certo momento, entendeu que o que ouvia na igreja não fazia mais sentido pra ela, então decidiu parar de frequentar. A parte mais difícil foi explicar isso para a família, sente que colocavam uma expectativa muito grande nela, então acabou decepcionando os pais, arranjava desculpas para não ir ao invés de falar diretamente o que sentia e o processo demorou muito mais para acontecer. Quando conheceu a Júlia, vivia um momento diferente, mas complicado. Explica que a Júlia ter enxergado ela e dado uma chance para que vivessem um amor tão bom como vivem só faz admirar e amar cada vez mais tudo o que ela é (e o que são juntas). Além disso, acredita que amar independe de quem as pessoas são. Você deve sempre apoiar quem se ama. Júlia conta que sua descoberta para ter uma relação com mulheres foi praticamente inesperada, porque aconteceu enquanto uma “zoeira”, numa experiência de trisal. Não entendia e nem pensava muito sobre o que estava acontecendo. Foi entender quando ficou sozinha com a mulher e viu que isso incomodou o homem. Debateu, pensou sobre, entendeu o próprio corpo e então tomou protagonismo na história. Hoje, fala muito sobre as formas que o patriarcado toma conta das relações – ainda que sobre duas mulheres. E na sua relação com a Vitória dividem o máximo que podem, se comunicam e tentam traçar um caminho diferente. ↓ rolar para baixo ↓ Júlia Vitória

  • Fabi e Dani

    Começo a história da Dani e da Fabi contando um fato que elas me relataram sobre como enxergam o amor e a relação, logo no fim da nossa conversa: elas viveram uma situação em que foram até um bar encontrar alguns amigos, mas uma chegou antes que a outra. Até então estava super divertido… Ria, conversava, e brincava. Quando quem faltava chegou e elas finalmente ficaram juntas, o amigo comenta: “Você estava bem antes. Estava feliz. Mas agora, que ela chegou, vocês se encaixam. É como um brilho que acrescenta. Não faltava, mas agora acrescentou.” - e, assim, talvez consigam identificar muito do amor em pequenos detalhes. A Fabiana tem 41 anos, é natural de São Paulo (capital) e trabalha enquanto bartender, mas já foi da área de eventos e de produção. Ela entende o amor como uma dedicação e um ponto, também, de descanso, porque quando está do lado da Dani está tranquila. Ao longo da vida, a Fabi não teve grandes demonstrações de amor sendo explanadas e colocadas fisicamente - na família ou em outros relacionamentos - por isso a relação dela com a Dani se tornou uma referência. Elas estão sempre relembrando o quanto são importantes uma para a outra. A Danielle tem 34 anos, sua família é de Santa Catarina, mas ela cresceu e vive até hoje em São Paulo (capital). Dani trabalha (e muito!) em uma agência, com mídias e publicidade. É apaixonada por cachorros, convenceu a Fabi de adotar a Nina e a Laka (quando a ideia inicial era a doce ilusão de ter uma cachorra de porte pequeno…) e acredita que o amor está, dentro das relações entre mulheres, de uma forma importante e única. Ela vê o amor no cuidado porque quando pára o mundo para cuidar de alguém, é a melhor forma de demonstrar que ama. E que, quando esse alguém é outra mulher, a doação é muito mais intensa e profunda. ​ Quando a Dani e a Fabi começaram o relacionamento, foi aquele clássico: logo partiram para morar juntas. Mas calma, antes disso tem uma introdução. Elas se conheciam “de vista”, eram colegas de bar. Tinham amigos em comum, mas não conversavam muito. A Dani tinha saído de um relacionamento que não tinha sido legal há pouco tempo, começava a frequentar mais o bar e numa dessas idas a Fabi estava lá. Foram se encontrando, interagindo e num dia, após um evento na Casa 1, se encontraram e conversaram mais (a Casa 1, caso você não conheça, é um centro de acolhimento para LGBTs que foram expulsos de casa - e também funciona como centro cultural e clínica social em São Paulo). Nos dias seguintes se encontraram novamente e beberam bastante. Nesse dia, finalmente os amigos se uniram numa mesa só e no final da noite elas foram dormir no mesmo lugar. Nessa altura do campeonato, a Fabi já sabia que a Dani beijava mulheres também e foi então que o interesse aconteceu. Após ficarem pela primeira vez, a vontade de se encontrar foi surgindo naturalmente e durante as próximas semanas voltaram ao bar algumas vezes. ​ Contam que foi muito natural o começo do relacionamento pela vontade que tinham de estarem juntas. Nessa época, a Dani ainda morava com a mãe, mas elas passavam muito tempo na casa da Fabi e foi então que decidiram pela mudança. O apartamento inicial era pequeno, mas a comunicação entre elas era o principal e sempre fluiu bem. Elas brincam que até hoje, quando acontece alguma briga, os amigos estranham, porque não é tão normal assim. O que elas precisam resolver, se resolve na hora: a comunicação é o mais direto possível para que as coisas sigam seu caminho da melhor forma. Elas entendem também que isso foi devido a um processo interno e individual. A Dani, por exemplo, tinha uma comunicação ruim antes do relacionamento porque guardava muitas coisas para si, mas entendeu que a sociedade já é muito difícil de se conviver e de se estabelecer boas relações. É difícil sermos aceitas, conquistarmos nossos espaços, termos um bom contato… Então decidiu melhorar esse processo da melhor forma que poderia: demonstrando o que sente para deixar as coisas mais claras. Hoje em dia, elas não aceitam preconceitos, discriminações, críticas árduas vindo de quem não as conhecem… Reconhecem o amor delas enquanto algo único e lindo - e reconhecem também o caminho que percorreram para chegar até aqui. ​ Alguns anos (e mudanças) depois, as cachorras chegaram para alegrar ainda mais a casa. A Dani sempre sentiu muita falta de ter um cachorro no lar e a Fabi estava amadurecendo a ideia, então procuraram abrigos e ONGs, decidiram num sábado de manhã cedo ir até uma feira de adoção juntas escolher um cachorro >pequeno<... e, obviamente, os planos foram interrompidos. Na sexta à noite a Dani estava num bar e a prima dela ligou desesperada precisando de ajuda, quando ela chegou para prestar suporte, a cena era: uma cachorra precisando de lar temporário. Acho que o resto nem precisa explicar, né? De pequena não parecia ter nada, principalmente o coração: Nina adotou a Dani e a Fabi na primeira oportunidade. A Laka surgiu um tempo depois, quando a irmã da Dani resgatou e cuidou, postou fotos e a Dani, ao ver, chorou e sentiu que precisava adotá-la. Rimos muito porque a Fabi nem teve escolha, ela tinha se apegado só pela foto. Como diria não? Hoje em dia, elas contam o quanto as cachorras são sensitivas. Elas sabem quando as humanas estão doentes, estão sempre sendo muito parceiras, ficando ao lado e sendo atenciosas. Além disso, no dia a dia, são a diversão da casa e fazem com que tudo fique mais leve. É um cuidado refletido em muito amor. ♥ ​ Entendemos que cada pessoa possui a sua forma de amar. Às vezes o amor não precisa ser sempre demonstrado da forma mais delicada, feminina e romântica. Elas, por exemplo, entendem que possuem a sua forma de amar. É uma forma pura, que vai se moldando com o tempo. É também uma forma muito carinhosa, que envolve admiração, preocupação, brincadeiras, diversão e tantas outras coisas cotidianas. Logo depois da eleição do atual presidente foraBolsonaro, elas sentiram medo e necessidade de reafirmar esse amor, portanto oficializaram a relação com o casamento. Entendem esse ato como um ato político, visto que a nossa união está o tempo todo ameaçada pelo atual governo. Muitos outros casais sentem e sentiram o mesmo no momento em que ele foi eleito, portanto o casamento delas foi um dos exemplos de casamentos coletivos realizados no Brasil. Hoje em dia, são mulheres que seguem enfrentando da forma que está ao alcance os desgastes dessa política que nos ataca diariamente. E enfrentam, também, com afeto. A Fabi explica, por fim, o quanto foi ensinada a ser dura, bruta, demonstrando menos fragilidade nessa vida, mas que aprendeu (e aprende todos os dias) que o afeto está em fazer com que as pessoas que ela ama se sintam bem. É uma forma que ela e a Dani encontram de acolhimento e de estarem compartilhando coisas boas ao redor de quem amam. Por mais que a Yasmin e a Ignez se conhecessem desde 2019, elas foram ter o primeiro encontro e sair de verdade só em 2020, mais especificamente, um fim de semana antes da pandemia ser oficializada no Brasil - e em Fortaleza, cidade onde elas moram. Elas contam que estavam juntas quando saíram as primeiras notícias na TV sobre o primeiro caso de COVID-19 no Ceará e que no dia seguinte viraram 3 casos e que no dia seguinte dos 3 casos foi anunciada a “quarentena”. E aí? Como que duas pessoas que moram com os pais começam a construir um relacionamento (e a se conhecer) num contexto inicial de pandemia? Hoje, mais de um ano depois juntas, elas contam quanta coisa foi possível fazer mesmo estando dentro de casa: descobriram hobbies, cozinham juntas, jogam videogame, estudam muito, escutam música, se reinventam. A família da Yasmin desde o começo soube da Ignez e sempre foi uma convivência tranquila… enquanto a Ignez, nesse meio-tempo, se abriu e resolveu contar para os pais que estava namorando - isto, inclusive, é um processo recente, mas que está dando certo! Ela conta que há um ou dois anos atrás jamais se imaginaria dizendo que a família sabia e apoiava o namoro dela com outra mulher… e que hoje isso acontece naturalmente. Reforça: “Não que seja fácil, mas de estar acontecendo me deixa mais tranquila. Eu contei num segundo de coragem, sabe?”. ​ Yasmin tem 24 anos e estuda Arquitetura na Universidade de Fortaleza. Ela e o seu irmão sonham em montar uma empresa de engenharia e, além do trabalho, adora cantar, tocar violão, pintar aquarela... É uma pessoa que adora ser criativa, montar coisas e deixar o corpo se expressar. Ignez tem 25 anos, é formada em Direito e quando nos encontramos estava com foco total estudando para a OAB. Ela adora ouvir música, conhecer lugares novos e viajar. Inclusive, mesmo na pandemia, elas têm conseguido viajar de carro até o interior para ficar na casa de parentes e isso acaba garantindo uma experiência muito legal para as duas, é algo que adoram fazer. Mesmo com as dificuldades que, não só a pandemia, mas a vida em si nos coloca, tanto a Ignez quanto a Yasmin se mostraram ser pessoas que conversam muito e que se ouvem muito também. Nos momentos mais complicados, elas tendem a ficar juntas e resolver as coisas juntas. A Ignez diz “Às vezes só de estarmos quietinhas, no mesmo ambiente, já ajuda”. Ou seja, não precisa ser uma questão de resolver tudo o tempo todo, mas de gerar apoio e acolhimento. Elas acreditam que o diálogo consegue resolver qualquer coisa e possuem um acordo de que não vão dormir brigadas, então caso aconteça algum desentendimento, tentam resolver de alguma forma ou ao menos respeitam o espaço, mas não ficam desentendidas uma com a outra. ​ Mesmo que as duas tivessem vários amigos em comum, elas nunca tinham se esbarrado por aí. Mas a Ignez já tinha visto a Yasmin pelas redes sociais. E então, lá em setembro de 2019, rolou uma festa chamada “Tertúlia” em Fortaleza e a Yasmin apareceu por lá. Quando ela chegou e a Ignez viu, ficou até um pouco nervosa. Elas deram um oi, mas a Ignez percebeu a Yasmin saindo com outra menina da festa e desistiu. Uns dias depois, resolveu segui-la no Instagram e a Yasmin seguiu de volta. Meses se passaram, ela até tentou interagir pelas redes, mas não rolou. Quando o ano virou e chegou 2020, era fevereiro e elas estavam na festa de uma amiga em comum, então a Ignez viu a Yasmin chegando e até comentou com uma amiga: “Nossa, sabe aquela menina lá da festa Tertúlia? Ela tá aqui!”. Nessa festa, elas conversaram a noite toda, ficaram na borda da piscina tomando drink, dançaram forró juntinhas e se divertiram muito. E aí a Yasmin chegou nessa amiga em comum e disse que achava que ia rolar algo com a Ignez… até a amiga soltar a fatídica frase: “Não, amiga!!! Ela namora! Ela só é assim mesmo. Ela é simpática!”. O mundo da Yasmin caiu naquele momento. Ela ficou sem entender nada. Como assim?? Namora?? Um amigo dela já sabia da história do “relacionamento” da Ignez - que não era um namoro super longo e oficial, era um rolo que ela tinha com uma menina - e disse para a Yasmin “Vocês vão ficar hoje.”, mas ela estava decidida que não, por conta do namoro e tentou evitar isso a noite toda. O amigo ainda completou: “Ela “namora”, mas já-já esse relacionamento aí acaba”. ​ Ele acabou estando certo. Na hora de ir embora elas conseguiram uma carona para irem juntas e ficaram bastante próximas, foram até um local onde pediram o uber para a casa e lá aconteceu um beijo. Elas conversaram no dia seguinte sobre o que tinha acontecido, entenderam que tinha sido errado e que não era certo continuar e uns dias depois a Ignez realmente terminou o relacionamento. No carnaval, em seguida, elas se encontraram, mas pouco se falaram. Trocaram algumas mensagens pelo Whatsapp um tempo depois e a Yasmin soltou uns flertes, só para cutucar, mas depois falava “Ei, você não pode flertar de volta, porque você namora!”. Pois foi aí que a Ignez contou que não namorava mais e que poderia, sim, corresponder ao flerte. Foi nessa semana que elas decidiram sair juntas, que tiveram o primeiro encontro oficial e que em seguida a pandemia começou. No dia das namoradas, em junho, a Yasmin pediu a Ignez em namoro (mas foi praticamente uma corrida! Porque a Ignez também estava preparada para fazer o pedido). ♥ Para elas, o amor é uma construção. Seja ele entre um casal, entre a família ou amigos. É sempre construir e lutar para que seja bom, leve (que precisa ser leve) e que amar é você olhar para alguém e sentir que o que foi construído é genuíno, que veio de dentro da alma. Amar é, também, uma conexão de muita intensidade, principalmente entre duas mulheres - são corpos que desenvolvem uma força inexplicável, é revolução, uma luta constante contra quem quer que seja, contra tantas violências, e a favor do amor, com resistência. Quando pergunto como elas se sentem morando em Fortaleza e como enxergam a cidade, Yasmin comenta que gosta muito de lá e que sente muita falta de sair e curtir a cidade em si, mas que se tivesse o poder de mudar algo socialmente e culturalmente falando, seria que as pessoas respeitassem mais a história da cidade e trocassem mais o respeito entre si como um todo. Ela entende que se nos fosse ensinado a conhecer e respeitar a história da cidade e a história das pessoas que estiveram lá antes de nós estarmos, viríamos tudo com outro olhar e cuidaríamos mais dos espaços. A Ignez concorda com a educação sobre o nosso povo e completa que, nos dias de hoje, ela sente muita falta da segurança. Sente que o policiamento está sempre presente nos bairros nobres, mas que nas periferias e nos locais menos frequentados pela elite (como espaços centrais ou mais boêmios da juventude), é muito comum não se sentir segura. Gostaria que esses espaços e que a segurança em si fosse repensada - para que chegasse em todos. Fabiana Danielle

  • Wan e Lívia

    A Wanessa e a Lívia são duas mulheres que adoram viajar, desbravar lugares novos, cachoeiras, praias e vivenciar novas culturas. Foi numa dessas viagens que elas se conheceram, na Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, em 2016. Wanessa é Pernambucana, mas na época morava em Natal, enquanto Lívia é paulista e desbravava as terras de João Pessoa, na Paraíba. Eu sei, muitos lugares para um primeiro parágrafo, né? Mas avisei que elas gostavam de viajar. Pois bem, foi na praia (ou melhor, nesse vilarejo), que elas se conheceram durante as férias. Se deram bem, o romance foi acontecendo, mas teriam que voltar para suas vidas, uma em Natal e outra em João Pessoa. Assim, à distância, viveram um ano. Quando em 2017 a Wan foi, junto com a filha, Alice, morar em João Pessoa. Durante a nossa conversa, Lívia e Wan falaram sobre como se veem enquanto muito parceiras, sobretudo porque os primeiros anos do relacionamento foram em um lugar que não tinham familiares por perto e conviviam com um grupo de amigos pequeno (do qual a maioria também não era de João Pessoa). Isso fez com que elas se conhecessem muito, convivessem um tempo maior juntas e que também gostassem muito da companhia. Descobriram, desde o início do relacionamento, uma forma de confiança direta, porque tinham como contar uma com a outra - ou melhor, em trio, junto com a Alice. ♥ ​ Por mais que elas tenham morado 5 anos em João Pessoa, nosso encontro e a documentação ocorreu em um novo lar: São Paulo. Depois do início da pandemia, a Lívia já tinha concluído o mestrado (motivo que fez ela se mudar para a Paraíba) e passou para o doutorado em uma universidade paulistana, enquanto a Wan conseguiu um trabalho bem legal em São Paulo também. Com a mudança, vem um desafio que elas não tinham experimentado até então: conviver mais perto dos familiares e amigos, ter uma base próxima, diferente de João Pessoa. Elas até comentam que a chegada da pandemia, diferente do impacto que teve para quem convive com uma base grande de pessoas próxima, acabou sendo diferente para elas, pois já estavam acostumadas com esse núcleo menor, entre as três. O mais diferente mesmo, já chegando no novo lar, foi entrar numa nova rotina de conhecer vários amigos (que antes, eram amigos só da Lívia), ter a família por perto e novos compromissos. Elas brincam, inclusive, que geralmente os casais passam por isso no início - o processo de se adaptar à uma rotina familiar da parceira - e que elas passaram anos depois. Mas que, de toda forma, está sendo muito gostoso. Pela primeira vez os finais de semana estão cheio de eventos (visitar sobrinhos, festas de formaturas de primos, almoços em família…) mesmo que elas já estejam na cidade há meses. Durante a mudança, primeiro a Wanessa veio, para começar a trabalhar, enquanto a Lívia ficou organizando o que trazer e organizando a vinda da Alice também… e ah! É muito importante ressaltar: a Alice a-m-a viver em São Paulo com as duas. Durante as fotos, perguntamos em tom de brincadeira: “bora voltar para o Nordeste?” e ela respondeu “Só pra visitar!”. ​ No momento da documentação, Lívia estava com 32 anos. Ela faz doutorado em Sociologia, com ênfase em Ciência Política e atua como socióloga. Wanessa também estava com 32 anos. Ela trabalha enquanto Analista de RH, sendo especialista em Diversidade e Inclusão - e atenção aqui! Está sempre em busca de mulheres que estejam na área das artes (redatoras, editoras, produtoras, diretoras de arte, etc) (olha a oportunidade aí!). Hoje em dia, em São Paulo, seus gostos e suas rotinas são em torno de sair para comer, descobrir lugares novos e - de vez em quando - ir para shows e parques. Lívia diz que o amor para ela é viver assim: sonhando, viajando e crescendo juntas. Na sociedade patriarcal e racista que vivemos, ter esse amor é muito difícil, então por mais que pareça simples o que elas vivem, é algo muito político e revolucionário. A Wan completa que não é nenhum pouco simples. Amar é compartilhar, elas são muito companheiras e isso envolve muito esforço. Quando a Lívia fala sobre as questões patriarcais e raciais, Wan traz o quanto é poderoso nos questionarmos. Explica quantas vezes, por exemplo, que por a Alice ter a pele um pouco mais clara pensam logo que ela é filha da Lívia e já fazem essa conclusão sem perguntar, e como dá um nó na cabeça das pessoas quando elas respondem que a Wan é a mãe. “A importância de nos questionarmos o tempo todo antes de agirmos, de pensarmos outros modelos de sociedade, de nos permitirmos viver fora de padrões já estabelecidos.” ​ Por fim, elas contam também como tem sido viver em São Paulo, por ser uma cidade muito mais diversa e aberta sobre casais homoafetivos, em contrapartida do governo que vivemos, que representa cada vez mais a legitimação do fascismo e que nos coloca medo em muitos momentos que estamos nas ruas. Quando o foraBolsonaro foi eleito, sentiram uma tristeza absurda. E mesmo sabendo que seria muito ruim o que viria nos próximos quatro anos, é inexplicável o quanto piora a cada dia que passa em níveis que não saberíamos que era possível piorar. A Lívia fala sobre como as pessoas se sentem à vontade para expressar a raiva e o ódio que sentem, não existe pudor ou vergonha nos atos de violência, e a Wan complementa que mesmo que ela tenha um trabalho que fale sobre diversidade e que viva em São Paulo, as coisas mudaram muito nos últimos três ou quatro anos. Por fim, elas comentam também sobre a vivência que tinham em João Pessoa, por entender a cidade enquanto um espaço que carrega ainda traços colonialistas e que tinham medo de certas demonstrações. As pessoas ao redor delas, por exemplo, não sabiam que elas eram casadas - apenas um núcleo pequeno no trabalho ou amigos próximos. Hoje em dia, viverem como casal e falarem sobre isso é coragem e liberdade, mas também é sobre estarem em um espaço de segurança, num lugar que permite mais diversidade e com pessoas que pensam da mesma forma que a gente - que também se preocupam com elas, formando uma base próxima, de cuidado e afeto. Wanessa Lívia

  • Raquel e Rachel

    O sorriso que ele soltou naquele momento foi revolucionário. A cada momento em que eles se permitiam, esse amor se tornou revolucionário. O casamento delas, os convidados, o significado diário da casa, tudo isso é revolucionário, porque para elas estarem ali em um momento tão importante, sendo respeitadas, amando e podendo unir-se perante o matrimônio em si, muitas pessoas tiveram que lutar. E seguimos lutando pelas tantas mulheres que um dia poderão amar livremente, com suas famílias apoiando e se emocionando. A Rachel, termina falando sobre esse momento, bastante emocionada, mas me disse algo que marcou bastante e ecoou durante semanas na minha cabeça, uma coisa simples que a gente esquece: a ideia de que a vida é uma só. E que a gente não pode parar. Não vale a pena deixar pra depois, tem que amar mesmo, amar com vontade. O único egoísmo que a gente tem que ter é o de querer fazer o bem pra nós mesmas. Infelizmente, o pai da Rachel se tornou uma das vítimas da Covid-19 no Brasil. O Documentadas gostaria de homenageá-lo enquanto o homem forte, durão, porém com sorrisão, que tanto ouvimos falar bem ♥ e temos a certeza de que, de onde ele estiver, ele está tão orgulhoso quanto o dia que viu a Rachel dizendo “sim” durante o casamento: com a certeza de que criou e educou uma filha bem demais! À todas e todos que perderam algum familiar ou amigo para o Covid-19, nosso abraço e carinho. Seguimos juntas. ♥ Rachel, você é. É porque acontece! É porque é grandiosa! É! É um montão de coisa boa. Ou melhor, Raquéis, vocês são! :D Falamos bastante aqui sobre os pais da Kel, mas a família da Rachel também tem um papel incrível e emocionante nessa história. A Rachel foi adotada ainda bebê e os pais dela são mais velhos, assim como os irmãos. O processo de descobrimento e de saída do armário dela, ainda mais nova, em tempos diferentes e realidades diferentes, exigem outra perspectiva e outro entendimento. Com a chegada da Kel e do relacionamento delas, foi a primeira vez em que a família da Rachel realmente se abriu para a aceitação da sexualidade dela enquanto uma nova formação de família e principalmente o pai, por ser um homem mais fechado, permitiu-se abrir a novos pensamentos e novas vivências, mas não só: as meninas brincam que toda vez que a Kel chegava na casa deles ele abria era logo um sorriso de orelha a orelha. Ressignificação de lar. Esse é o nome do que ela sentiu. A Kel trouxe um presente gigantesco: ajudar ela a ressignificar a relação com a família de uma forma única. Durante o casamento delas foi muito legal ver a forma que eles se permitiram e se entregaram. O maior presente de todos foi a presença deles lá, estando à vontade, felizes e orgulhosos. Existe um vídeo, do qual as duas estavam de costas para o público e de frente para o cerimonialista e tem a imagem do quanto ele se emociona estando feliz quando a Rachel diz sim. Poucas vezes temos exemplos tão nítidos do quanto o amor entre mulheres pode revolucionar a vida das pessoas, e esse, com certeza, é um dos melhores exemplos que temos. ♥ O relacionamento foi se desenvolvendo e com o passar do tempo cada vez mais as duas se viam apaixonadas e entendiam o quanto a vida é realmente feliz uma do lado da outra. A Rachel comenta o quanto sempre foi claro para ela o amor nítido que sentia, o quanto isso realmente significava algo revolucionário, desde aquela época. A Kel conta que sentia o amor enquanto um sentimento puro. Com respeito, com cuidado. E a Rachel completa que por mais que o amor não tenha gênero e nem sexo, ele acontece principalmente quando você se vê capaz de amar uma pessoa na íntegra. Por fim, a Kel diz que Deus nos fez para amar o próximo e ela realmente acredita que, além de nos amarmos por ser o melhor a ser feito, amar é também um encontro de almas. Mas que de qualquer forma, independente da relação que você tiver, ela não pode ser pesada. Os encontros nas nossas vidas devem servir para nos acrescentar, não para nos pesar - e serem leves. “Se nascemos sozinhas, temos que estar bem sozinhas. Se for pra ser pesado e fazer mal, não vá. Você tem que ser leve, em geral, tem que te fazer bem! Pode ser que tenha um dia ou outro ruim, mas nunca que te faça mal.” Foi em um período pensando sobre o amor e sobre o quanto gostaria de viver para sempre essa relação com a Kel que a Rachel tomou a decisão de fazer o segundo pedido, mas dessa vez, o de casamento! Para o pedido de casamento acontecer, contou com seus dois grandes aliados: os sogros! Então ela ligou para o pai da Kel e disse: “quero pedir a sua filha em casamento, mas quero pedir a sua bênção, a sua ajuda, a sua permissão. Ela não sabe e não pode saber. Quero ter certeza que para você está tudo bem.” Foi um novo choque, mas ele topou: “conta com a gente, estamos do teu lado! E eu quero te dar o champagne!”. Ela ligou para a sogra e o pedido também foi feito. Ambos ajudaram na preparação, escolheram alianças e a surpresa foi montada. No fim de 2018, a Rachel levou a Kel para ver um nascer do sol na praia, totalmente vazia, no interior de São Paulo. Quando elas chegaram, sentaram na areia, tudo estava no carro preparadinho e ela decidiu levantar e preparou uma cartinha para ler. Estava tremendo muito, a Kel achou fofo mas não imaginou que fosse logo um pedido assim… quando o pedido foi feito, o sol estalou e brilhou muito forte, se abriu e ela disse sim. ♥ Foram duas alianças de noivado e elas não ajoelharam, para que tudo fosse de igual para igual. Em São Paulo, todos já aguardavam notícias. O casamento aconteceu em setembro de 2019, em uma festa para os amigos mais queridos e em um dia muito especial. Tudo foi preparado pensando em cada detalhe e todos se divertiram muito. O encontro da Rachel com o pai da Kel foi muito importante para que ele também entendesse que a Kel nunca deixou de amar as pessoas enquanto seres humanos. Por mais que pudesse soar que ela estava em um momento mais carente, ele de alguma forma ficou preocupado pela Rachel ter terminado um noivado por alguém que pudesse estar “em dúvida”. A conversa foi muito importante para explicar a existência da bissexualidade em si e as formas de amar, de deixar ele mais tranquilo como um todo vendo a construção do relacionamento das duas. A conversa fez com que ele falasse com a mãe da Kel e ela foi se abrindo para a ideia, até chamou a Rachel para comer uma pizza com elas e se deram muito bem. Foi uma chuva de elogios gigantesca para esses dois ♥ pessoas muito generosas e que estiveram o tempo todo na base e no apoio dessas mulheres que esbanjam amor. Essa “saída do armário” aconteceu apenas com os pais da Kel, isso é bastante importante e legal de ressaltar. Ela nunca precisou fazer esse movimento com os amigos. Apenas disse que levaria alguém no bar/no churrasco/no evento e chegava com a Rachel, não precisava dar nenhum tipo de satisfação ou explicar, assim como uma pessoa heterossexual não explica que vai chegar com um namorado homem. Ela chegava de mãos dadas e em dois minutos todos já estavam adorando as duas, porque viam o quanto elas se davam bem, tratavam os outros bem e se divertiam juntas. A história da Kel e da Rachel começou um pouco antes e, por incrível que pareça, através do pai da Kel. O ano era 2016 e ele fazia aula de hidroginástica e quem dava essas aulas era a Rachel. Ambos se davam muito bem, brincavam, faziam piadas, se viam toda semana e ele sempre comentava com ela que queria muito levar a filha dele para fazer aula um dia porque acreditava que elas pudessem se tornar grandes amigas. Quando a Kel finalmente foi nessa aula, de fato elas se deram muito bem! A amizade surgiu logo de cara, não foi algo com segundas intenções. Primeiro porque a Rachel nunca cogitava se envolver com alguém em seu ambiente de trabalho e segundo porque ela também estava em um relacionamento de anos. Nas semanas seguintes a Kel iria voltar para as aulas, mas colocou alguns piercings e precisou ficar afastada da piscina por um tempo, então elas tiveram aquele contato inicial e passaram alguns dias afastadas. Neste meio-tempo, a Rachel, que estava no relacionamento, passava por um momento diferente. O relacionamento que vivia um processo muito mais de amizade que relação entre casal envolvendo paixão em si, foi surpreendido com um pedido de casamento! E esse pedido veio em um sentido de tentar dar um novo rumo para a relação, uma última chance. Envolvia um carinho bastante grande, mas não aquele impulso e desejo brilhando o olhar, foi uma tentativa de recuperação. Ela aceitou o pedido e colocou a aliança no dedo, mas não contou para os colegas de trabalho sobre. Estava em um processo mais intimista. Foi então, durante uma aula, que o pai da Kel logo observador e brincalhão percebeu o anel de ouro na mão e chegou perguntando o que era essa novidade que ela tinha para contar. Como ninguém sabia do seu relacionamento com uma mulher, ela - para todos os efeitos - estava noiva de um homem. Quando a Kel voltou, já sabendo da novidade pois o pai comentou em casa, teve a aula esperando que a Rachel comentasse. Animada, a cada intervalo esperava ouvir sobre o pedido, mas nada aconteceu... nem se quer comentou. E então ela questionou, já que gostava tanto de casamentos, não conseguia entender como alguém não compartilhava algo tão emocionante… e foi aí que a Rachel sentiu que podia confiar na amizade (mesmo que ainda breve) delas e elas marcaram um café depois da aula, lá que ela contou: “rolou sim o pedido e sim, aceitei. Mas eu vou me casar com uma mulher”. Logo depois do primeiro beijo a Kel foi para uma viagem com os pais, enquanto a Rachel conversou e terminou o seu relacionamento. Foi tudo com bastante comunicação e ambas entenderam que era o melhor a se fazer. Quando a Rachel e a Kel lembram sobre o começo do namoro, contam como tudo era muito especial. Os primeiros beijos foram muito marcantes, eram como os melhores beijos da vida, algo que elas nunca tinham sentido. Uns meses depois de estarem juntas e quando já se sentiram mais à vontade, relaxadas e tranquilas, a Rachel fez o pedido de namoro num lugar muito especial para elas e do jeito que a Kel sempre sonhou: aqueeeele pedido! Flores, champagne, alianças, tudo! Ela aceitou ♥ Um tempo depois, decidiram contar aos pais da Kel, visto que era muito importante para ela que a família soubesse do relacionamento. Elas não imaginavam como eles poderiam reagir, ainda mais por ser algo que nunca tivessem esperado e imaginado, mas compreendiam que eles fossem ter o tempo necessário para processar e elas estariam por perto dando suporte. No começo, eles sentiram um choque, ficaram mudos, não falaram nada. Mas também não brigaram, tentaram entender e ouvir ela. Os próximos dias foram difíceis pelo pai da Kel ter aula com a Rachel, mas em nenhum momento ele foi desrespeitoso, só deixou de fazer tantas brincadeiras com ela. No fim da aula, ela chamou ele para conversar e disse que estava disposta a tomar um café quando ele quisesse, no tempo dele, para falarem sobre. Ele agradeceu e explicou que ainda não estava preparado, mas que iria chamá-la quando estivesse. Uma semana depois o encontro aconteceu, tomaram um café e a Rachel se sentiu à vontade para contar a história dela, como ela se entendeu, se descobriu e o que ela sentia pela Kel. Explicou também que não era uma brincadeira, uma maldade, uma paixonite. Ele se mostrou muito aberto a entender o que ambas sentiam. A Kel conta que nesse dia, quando ela soube sobre a sexualidade da Rachel, algo nela despertou como “caramba, a primeira mulher que cheguei a pensar sobre achar interessante também fica com mulheres... mas está noiva e vai casar! Sigo meu baile, quem sabe com ela posso compartilhar esse tipo de coisa futuramente.” e com o passar do tempo a amizade entre elas foi crescendo. Depois da aula elas marcavam cafés, a Rachel dava caronas para a Kel até em casa e tudo era bastante saudável. Quanto mais aulas elas faziam juntas, mais se viam e conversavam, foi despertando vontades de se falar via Whatsapp e de se encontrar em outros momentos também - por mais que os encontros fossem sempre limitados às aulas. Mas isso fez com que surgisse algo como uma certa paixão antes mesmo de se envolverem fisicamente, já existia ali o começo de um sentimento. A Rachel não queria tomar nenhuma atitude por conta do seu relacionamento, não achava justo se envolver em uma traição. Nunca quis isso e por mais que estivesse cada vez mais claro que a relação não teria futuro, não queria que acabasse de forma tão ruim. Além disso, ela também não sabia se o sentimento era algo da cabeça dela ou se a Kel também estava envolvida da mesma forma, se um beijo colocaria em risco a amizade que elas construíram ou como ficariam. Não queria perder: nem o relacionamento, nem a amizade. Foi durante um feriado que resolveu conversar com a Kel e falar sobre o que estava sentindo e ambas concordaram que na próxima vez em que estivessem juntas resolveriam se aconteceria o beijo ou não. Até que o dia chegou e, no último minuto possível do tempo em que tinham para ficarem juntas, aconteceu! E a partir daí elas tinham certeza: era, realmente, para estarem juntas. Rachel e Raquel. Raquéis. Quando a Kel entrou em contato com o Documentadas, ela brincou: “queríamos contar nossa história para vocês! Temos poucas coisas em comum, além do nome, mas garantimos uma história legal!”. Achei que o nome se limitasse ao Raquel, mas quanta ingenuidade a minha. Depois do casamento virou o mesmo nome e sobrenome! Agora, ao menos para as autoridades, são quase-que a mesma pessoa. Na nossa documentação para que a história não fique confusa, identificamos a Rachel sempre dessa forma: com ch. E a Raquel enquanto Kel :) Bom, a Rachel é paulista, professora de natação, adora a natureza, sempre curtiu diversos esportes. Ela já teve outros relacionamentos com mulheres, mas nunca foi uma pessoa que falava sobre isso nos espaços de trabalho e que militava ativamente na pauta LGBT. Ela mantinha seus relacionamentos de forma estável fora do ambiente profissional (e tudo bem assim!). No mais, sempre foi apaixonada pelo mundo e por viagens, por conhecer lugares novos e por estar fazendo novas amizades. Já a Kel também é paulista, publicitária, sempre foi uma pessoa apaixonada por histórias de amor e por casais - sabe aquela amiga perfeita para ser madrinha de casamento? Aquela que se empolga na organização, quer saber todos os detalhes sobre o pedido e que cada momento seja perfeito? É ela. Na vida da Kel, antes de ela conhecer a Rachel ela nunca tinha se imaginado em um relacionamento com outra mulher - nem tinha afetivamente se envolvido por uma mulher - mas sempre soube que era apaixonada pelas pessoas em suas formas diversas de ser. Rolar Rachel Raquel

  • Luma e Stefany

    Luma e Stefany foram documentadas um dia antes do chá de bebê do Joaquim acontecer, em Campinas, reunindo a família num tema de festa junina. Stefany estava com 29 semanas - quase entrando no oitavo mês de gestação - e o quartinho ainda era um grande estoque de fraldas. O nome Joaquim vem de uma homenagem ao bisavô da Luma. Dentre todos os grandes motivos que despertam o desejo da maternidade, Luma conta que um deles a faz se ver enquanto mãe de um jeito especial: se não fosse ela a dar seguimento, sua linha familiar iria acabar. Cogitaram a adoção, estudaram os tipos/métodos de fertilização e Luma acabou retirando os óvulos na clínica para fazerem a fertilização in vitro. Por mais que sejam rodeadas de mulheres - principalmente na família da Luma, que é composta pelas tias e avós bastante presentes - passam boa parte do tempo conversando sobre a importância de ter um filho homem e de como será educá-lo nessa sociedade. Stefany comenta que mesmo entendendo a existência do preconceito com elas enquanto duas mães, não é isso que ocupa seus pensamentos, já que o amor fala mais alto… O que realmente procuram focar é nas formas possíveis de educar um homem num mundo tão machista, os valores que pretendem ensinar e como querem que ele seja respeitoso. Em 2020 (pouco antes da pandemia de Covid-19 acontecer) Luma e Stefany se conheceram, por conta de amigos em comum, numa festa que Luma nem estava tão afim de ir, no carnaval. Elas já sabiam da existência uma da outra, porque tinham se esbarrado uma semana antes - e tinham interesse em comum - mas não se conheciam de fato. Naquele dia, Stefany passou mal, Luma cuidou dela um pouco, mas nada aconteceu. Na semana seguinte, se reencontraram, o beijo aconteceu e tiveram uma interação para além dos encontros rápidos anteriores. Porém, os dias se passaram e foram surpreendidas com o lockdown que trancou cada pessoa em sua casa nos fazendo não entender o que acontecia nas cidades e nos países por conta da pandemia. Nesse tempo, elas conversaram muito online, Ste teve que seguir trabalhando no hospital e compartilhava os medos, a falta de informação, tudo o que estava acontecendo. Foram se aproximando cada vez mais. O tempo foi passando e não conseguiam se encontrar por conta da pandemia. Luma morava no mesmo prédio que a avó, não tinha como sair e tinham muito medo, acabavam se vendo apenas por vídeo. Depois de algum tempo, resolveram arriscar: Luma ficava duas semanas sem contato com nada, saia, voltava e ficava mais duas semanas sem contato para depois ver a avó. Era uma saga toda vez que decidiam se ver. A avó entendeu que estavam gostando de verdade uma da outra e decidiu ficar na casa de outros familiares por alguns meses, assim, conseguiam se ver sem tanta dificuldade e ela não dependeria 100% da Luma. Foi em junho de 2020 que conseguiram ficar juntas pela primeira vez e em dezembro decidiram morar no mesmo lar - com muito medo de não dar certo - até que chegaram os cachorros, conseguiram um apartamento melhor e foi tudo se encaixando. No momento da documentação, Luma estava com 27 anos. É psicóloga, natural de Campinas. Stefany, no momento da documentação, estava com 30 anos. Trabalha enquanto enfermeira pediatra, nasceu em Ribeirão Preto, se mudou para Campinas por conta da residência médica e segue até hoje na cidade. Acreditam que a pandemia as uniu e desde então amam estar juntas, fazem praticamente tudo grudadas. Assistem séries, leem bastante, passeiam com os cachorros. Adoram a natureza e desejam levar seus hobbies para o Joaquim. Desde o começo do relacionamento conversavam sobre o desejo da maternidade, sobre adoção e como queriam formar uma família. Pensaram várias vezes na adoção, até que foram para a ideia da clínica, da Luma retirar os óvulos e estudaram melhor as possibilidades. Em 2022, Luma fez todos os exames, elas conseguiram pagar apenas o sêmem e o processo foi longo, durou 6 meses. Nesse meio tempo se mudaram, conseguiram comprar um apartamento, acharam uma receptora mas foi preciso muita paciência, na teoria tudo teria sido muito mais rápido. O telefonema da clínica veio um dia depois de uma gira de Erê (que representa as crianças na Umbanda) e são muito ligadas à fé. Sempre ouviam nas giras que a gravidez iria acontecer, mas era preciso esperar, estava vindo. A meta delas era engravidar em 2022 e a implantação do embrião foi no dia 30 de dezembro, passaram o ano novo em repouso, mas felizes porque mesmo no limite deu certo, com paciência. Luma entende que aprendeu a amar nesses processos e também com a família dela, a forma constante de apoio que elas (a avó e as tias) demonstram, sempre fazendo coisas umas pelas outras. “Uma base feminina muito forte e muito politizada”. A avó é muito forte, fugiu muito da questão tradicional. E brinca que a família, como apoiou tudo, sente que elas estão grávidas há anos pelo quanto dura o processo. Por isso, reforçam que precisamos procurar clínicas que saibam nos acolher. ​ Quando falamos sobre o futuro que esperam para o Joaquim, começam comentando como é difícil viver num Brasil conservador porque o conservadorismo faz com que a pessoa não queira nem tentar mudar o pensamento: se fecha completamente numa ideia sólida de que só ela está certa, não permite a mudança. Comentam sobre o condomínio onde moram, cujo é muito grande, possui diversos blocos e moradores, mas que até então só sabiam da existência de mais uma ou duas mulheres lésbicas, além delas. Por conta disso, também, existe a importância de tomar esses espaços. Citam as bandeiras do Brasil que estavam nas janelas na última eleição e que depois da vitória do Presidente Lula elas decidiram colocar uma bandeira na janela representando suas ideologias também, deixando alguns dias, para que as pessoas soubessem que elas estão ali, num ato de comemoração e resistência. Na clínica, conhecem apenas um outro casal formado por duas mulheres, e citam como todo o material feito é muito voltado à casais heterossexuais. Acreditam no quanto ainda precisamos avançar para que mais casais tenham a chance de engravidar, querem ver mais mães, querem que o Joaquim tenha mais colegas com duas mães nas escolas. Contam também sobre uma situação específica que viveram no dia do casamento, em junho de 2021, quando a pandemia deu uma flexibilizada e elas completaram um ano de namoro. Casaram no dia das namoradas (sem lembrar que seria dia das namoradas), e por uma seleção do cartório mais próximo da região acabaram indo para um bairro classe média-alta. Estavam com muito medo de como seria a recepção, como as pessoas iriam reagir - o nervosismo estava maior perante o medo do preconceito que até sobre a situação do casamento em si. Quando chegaram, foram tão bem recepcionadas por uma mulher que não se sentiram nenhum pouco reprimidas e acabaram tendo uma experiência maravilhosa. Sentiram isso de forma muito empolgada, acolhedora, diferente. E desejam que todos os casais pudessem ter uma experiência assim. ↓ rolar para baixo ↓ Stefany Luma

  • Mariana e Reylibis

    A Rey hoje em dia trabalha enquanto arquiteta em um escritório em São Paulo, ela sonha em se mudar para a Bahia e conta o quanto ama morar no Brasil. Ela aprendeu a se aceitar morando no Brasil e aprendeu também a gostar de todo o tipo de diversidade. Fala sobre a sua vivência na Venezuela e sobre lá ser tudo muito escondido, sobre jamais poder demonstrar qualquer tipo de afeto com outra mulher na rua e não ter um espaço do qual ela possa se sentir à vontade. Aqui ela encontrou esse espaço. Mas, agora que ela já mora aqui, também entende que ainda assim existe o medo, os olhares, a violência, o aumento de um certo conservadorismo nos últimos tempos… mas que não é hora de abaixar a cabeça porque temos que seguir caminhando para vencer totalmente esse medo. Elas acreditam que o amor que cultivam significa e sempre significou: compartilhar. Porque começou por estarem compartilhando os detalhes do dia a dia. E que mesmo não sendo fisicamente presente, ele existe de forma intensa e sempre foi vivo, porque elas sempre se preocuparam, sempre tiveram empatia em pensar não só no que sentem, mas na forma em como faziam uma a outra se sentir. A relação também serviu como um processo de cura, aconteceu de forma natural. E por mais que já receberam olhares na rua, já passaram por certas violências sendo mulheres, entendem que o amor entre elas gera força e sintonia, é político e também é sobre se recusarem a se envolver com homens, é sobre reverter uma situação de uma sociedade que coloca os homens no centro de tudo. Por fim, a Mari é urbanista e faz parte de alguns projetos super legais, como mobilizadora da Rede de Ativismo Nossas Cidades (clica aqui!), e também integra a organização TODXS Brasil como articuladora política LGBTQIA+, e é colaboradora do projeto Nossa Fala, onde desenvolve conteúdos sobre território, gênero e interseccionalidades. Ela fala sobre a importância de, para mudarmos realmente a cidade, precisarmos colocar mulheres que fazem cidades para mulheres - desde arquitetas, urbanistas, pensadoras de mobilidade, cultura, política, educação, enfim, de tudo. Aí, sim, viveremos em um lugar seguro para nós mesmas. Quando a Mari voltou da Espanha, em junho de 2019, logo no mês seguinte elas conseguiram se encontrar, foi quando a Reylibis veio ao Brasil, passar alguns meses. Foi tudo muito bom, elas moraram juntas por um tempo e decidiram que ela voltaria para a Venezuela para terminar algumas matérias da faculdade e organizar o trabalho de conclusão de curso entre o fim de 2019 e o meio de 2020 e assim que estivesse formada se mudaria de vez para o Brasil. Foram algumas idas e vindas, até que ela embarcou no dia 6 de março para apresentar o trabalho lá e voltar em maio e no dia 14 aconteceu o que jamais esqueceremos… foi declarado o início da pandemia. O que era maio, virou novembro. Mais uma vez elas se viram em países diferentes. E dessa vez foi muito pior, porque a Mari estava sozinha no apartamento e a Rey acabou apresentando o trabalho online, ou seja, ela poderia ter continuado no Brasil. Foram todos esses meses tentando comprar passagens, mas ninguém poderia sair da Venezuela, as fronteiras estavam fechadas por conta da situação política e não haveriam voos para o Brasil por conta dos nossos governos não se reconhecerem (Bolsonaro não reconhece o governo Maduro, e vice-versa). Mesmo que elas pedissem auxílio em espaços de imigrantes refugiados e embaixadas, não conseguiram ajuda, e no fim só foi possível por terem viajado para outros países até conseguirem chegar ao Brasil. Enquanto elas relembram cada detalhe sobre como foi muito difícil passar por isso no meio da pandemia, lembram que no começo jamais teriam cogitado um relacionamento à distância. Nem sabem me explicar como ocorreu, ambas nunca teriam topado ou acreditado se contassem à elas que iriam viver isso, simplesmente aconteceu. E é também por isso que dão tanto valor a todos os momentos que estão juntas. Desde os momentos em casa, até qualquer ida ao mercado, viagens, almoços, momentos em família… não querem mais passar momentos distantes, estão sempre juntas. A Mari conta, inclusive, que por mais que elas agissem de forma sensata antes da despedida do tipo “não podemos ter nada.”, elas já estavam se sentindo diferentes, e que a Reylibis, enquanto ela fazia as malas, estava deitada na cama e disse que por mais estranho que isso pudesse soar, de alguma forma, ela sentia que estava amando a Mari. No momento a Mari ficou quietinha, não disse nada de volta, mas se sentia balanceada também. Ela nunca tinha se sentido assim por uma mulher, então isso também era bastante novo, também era uma posição bem diferente. ​ Quando ela chegou na Espanha foi compartilhando tudo com a Rey, desde mandar fotos, fazer ligações… virou uma companhia à distância. Elas almoçavam e jantavam juntas, contavam sobre seus dias e sobre as novidades de tudo o que estavam aprendendo. Por mais que ainda não possuíssem um compromisso de relacionamento, elas até tentaram se encontrar na europa, mas não foi possível por conta de todas as dificuldades políticas que a Rey enfrentava toda vez que tentava sair da Venezuela. É muito importante lembrarmos que a Venezuela passa por uma situação de ditadura militar e crise econômica muito forte, dos quais os militares acabam barrando e fazendo dura fiscalização sobre quem circula dentro do país, de quem entra e sai do país, pelas mulheres, LGBTs, jovens, pelas pessoas não terem condições de guardar dinheiro e por tudo ser muito escasso. A Rey comenta que o plano dela sempre foi sair de lá o mais rápido possível - e que inclusive sempre foi muito apoiada pela família - porque essa é a principal saída para todos os jovens. Infelizmente, no momento não há oportunidades para quem fica lá. Com o passar do tempo e com a relação delas se estruturando, elas foram entendendo que queriam ficar juntas, e isso abriu maiores possibilidades para a Rey pensar sobre fazer o trabalho de conclusão da faculdade no Brasil (em alguns quilombos na Bahia) e encontrar novamente a Mari. Abram alas para a nossa primeira documentação internacional ♥♥♥♥ A Reylibis é venezuelana, natural de Carúpano, mas morava em Caracas antes de (finalmente!) se mudar ao Brasil. Digo finalmente porque vocês vão entender o quanto as duas (ela e a Mari) passaram por muitas batalhas juntas para fazer essa mudança acontecer. Ela tem 25 anos e conheceu o Brasil através de um intercâmbio da faculdade de arquitetura, que durou 14 meses, durante os anos de 2017 e 2018, na cidade de São Paulo. Lá fez muitos amigos, frequentou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (a FAU, local que fizemos as fotos), da USP e, no último mês antes de retornar ao seu país, conheceu a Mari. A Mari também tem 25 anos, é paulista, urbanista e conheceu a Rey por conta de todos os amigos que tinham em comum na faculdade. Elas passaram meses frequentando os mesmos espaços, saindo com as mesmas pessoas, mas nunca conversavam de fato. Foi durante uma janta, um mês antes da Rey voltar para a Venezuela e a Mari dar início ao seu intercâmbio para a Espanha, que elas se conheceram de fato, em uma janta com os amigos. Elas brincam que “a janta começou com uma conversa e quando vimos já estávamos uma no colo da outra, fazendo cafuné na cabeça e rindo de bobagem”... naquela noite ficaram e no mês todo que se passou também. Quando a despedida aconteceu e elas seguiram para países distantes não pensavam em assumir algum tipo de relacionamento e nem achavam que o contato seguiria sendo mantido, até porque sabiam que não tinham data para se encontrar novamente, mas o tempo foi passando e as coisas aconteceram ao contrário: elas se falaram cada vez mais. Reylibis Mariana

  • Sharon e Vivi

    Por fim, falamos também sobre o futuro e sobre mudanças sociais que gostaríamos de enxergar. A Sharon trabalha atualmente em uma empresa própria que atua um pouco entre turismo e entre o meio corporativo… as empresas contratam a plataforma dela para premiar seus funcionários através de campanhas de venda/metas/aniversário de casa e os prêmios são bastante variados, mas antes da pandemia envolviam viagens, jantares, presentes, passeios de balão, etc. Ela enfrentou um baque muito grande na pandemia, precisou devolver a sede fixa, passar por muitos cortes, inclusive de funcionários, se reinventar muitas vezes de muitas formas. Hoje em dia se adaptaram para que os presentes sejam em casa (e ainda possuem alguns fora), mas reflete muito sobre como tudo precisou ser mudado e sobre como as mudanças vão demorar anos para nos restabelecerem. Ela fala também sobre a importância de ocupar espaços sendo quem somos, de dar as mãos em público, de falar com os filhos, estabelecer diálogos, abrir mentes. Sobre esse trabalho que acaba sendo um pouco de um a um, mas que traz representatividade e que vai mudando em comunidade quando o primeiro decide dar o passo. A Vivi também entra nesse assunto, mas com um ponto de vista da realidade que ela vive envolvendo a agroecologia. Fala sobre a importância da reforma agrária, sobre a quebra de acúmulo absurdo de capital que existe no mundo atual e traz um ponto muito importante: o de trazer mulheres pretas invertendo as coisas. Ela explica que é quem ela é pelas pessoas por quem ela passou, e que essas pessoas por quem ela passou não são brancas, por isso quer ver pessoas não brancas nos espaços de poder, nos espaços que ela frequenta, em todos os espaços que puderem ser possíveis estar. Acredita que só assim as coisas terão alguma chance efetiva de dar passos para frente. Da mesma forma, ela tenta ensinar tudo o que pode para a Rafa, porque acredita também que uma Rafa lá na frente vai fazer a diferença. “Pessoas reais ocupando espaços reais são o que, no dia a dia, faria reflexo”. Quando falamos de amor, a Vivi entende que o amor é você se permitir colocar no lugar do outro: de toda criatura. Seja pessoa, seja planta, seja bichinho. É se colocar e estar bem se colocando. Sentindo calor no peito, uma plenitude e um saciar, ou melhor, um transbordar. E por mais que não concorde, por mais que sofra, você não sente sozinha, porque o amor é social. A Sharon acha que o amor envolve nunca querer ver a pessoa que você gosta triste. Acho que no começo a gente interpreta essa frase de uma forma, mas é possível ler ela de inúmeras maneiras. Primeiro porque sempre fazemos de tudo pelas pessoas que a gente gosta, meio que sem explicações, não sabemos como explicar isso, mas a verdade é que fazemos porque gostamos. E aí entram nossas mães, filhos, amigas, pessoas amadas… E segundo porque entram situações como a dos filhos, por exemplo, que você precisa ensinar a frustrar, porque se você não ensinar, você não ama, e você ensina isso porque você quer ver ele bem. É quase que uma loucura, mas faz parte desse amor. É uma forma de sempre ir se desdobrando para chegar num objetivo final, que é sempre trazer coisas boas à pessoa que você gosta, e não deixar ela triste. Quando destinamos esse amar ao assunto de amar outra mulher falamos que o amar outra mulher é sensual - “porque é um afeto de mulher, é uma condição de mulher” - e é também se ver longe de muitos machismos. A Sha identifica a relação das duas como um encaixe, como algo que ela nunca teve com ninguém, ainda mais com um homem. Principalmente pelo cuidado, pelo apreço, pela comunicação… por algo que só a mulher saberia proporcionar. Citamos por um tempo a questão de quando uma mulher está em um dia que ela não quer ter relações sexuais, por exemplo, ela pode falar, que as duas vão arranjar algo para fazer juntas, uma comida gostosa, assistir um filme ou qualquer outra coisa, enquanto milhares de mulheres passam por relações de forma “obrigatória” por não conseguirem dizer que não querem ter uma relação sexual com um homem. Como pode isso ainda acontecer com tantas mulheres? E de que forma também as outras relações poderiam ter mais diálogo? Ou, de que forma que em relações heterossexuais normativas, por exemplo, os casais pudessem trabalhar melhores formas de escuta? Manter a casa e a família é um desafio muito grande e a casa surgiu em um momento de muito aperto também, foi logo depois que elas contaram para as crianças e quando a Sha ainda morava em um apartamento sozinha com os dois pequenos que houve uma tempestade em São Paulo e muitos pontos alagaram, inclusive este prédio em que ela morava. Foi uma situação de muita correria e desespero, porque a garagem inundou, tiveram que retirar as pessoas do local, a Vivi ajudou ela com as crianças e por conhecerem e terem contato com a vizinhança, a comunidade e o pessoal da escola, alguns conhecidos souberam do ocorrido e comentaram sobre uma casinha que estava ficando disponível porque os inquilinos estavam saindo do Brasil. Decidiram dar uma chance e fazer uma visita, talvez pudesse ser legal, estar em boas condições e ser um valor possível de pagar, então marcaram um horário. Quando chegaram, a primeira coisa que viram foi o portão amarelo e aí a Vivi reconheceu que justamente ali, o portão e a árvore de Ipê que ficava em frente à ele, foi ela quem plantou há anos atrás, quando foi convidada a vir ao bairro fazer parte de uma arborização. Tudo na história foi se encaixando perfeitamente e a casa coube direitinho nos planos: virou o lar. A relação dos quatro também foi uma construção de muito cuidado e muuuuuuuito afeto. Por mais que elas transbordem amor, a família paterna das crianças ainda é um tanto quanto homofóbica, então elas enxergam que na nossa sociedade existem lados muito opostos sobre as coisas. A Sha e a Vivi acabam falando mais sobre a Rafa, por conta dela ser maior e já entender melhor como tudo funciona e por apoiar e defender muito as duas na frente da família paterna, o quanto ela mesmo já reconhece as duas enquanto mães e a forma que em detalhes mostra o apoio, desde ouvindo músicas de cantores LGBTs até desenhando e pintando vários quadros de arco-íris pela casa. Tanto ela quanto o Raul entendem que o preconceito ainda existe no mundo, mas muito mais que isso entendem o amor deles pela Vivi, porque são apaixonados por ela. Quando ela está no sítio eles ficam doidos para que ela volte para São Paulo, sentem saudade, querem ela perto. E assim vão construindo suas rotinas e tendo suas vidas enquanto uma família. Eles a reconhecem e isso é o que importa. Aos poucos elas foram se encontrando e ficando realmente juntas. A Sharon, há um tempo atrás, já preparava os filhos em casa introduzindo assuntos como esse. A Rafa hoje em dia tem 12 anos e o Raul tem 7 anos, e ela sempre falou muito sobre diversidade, sobre as pessoas serem livres para amar quem elas sentirem atração, sobre as múltiplas lutas sociais e tudo o que nos envolve. Foi um passo muito importante assumir o relacionamento com a Vivi e também muito engraçado ouvi-las contando. Como eles eram bem mais novos, tudo ainda era uma incógnita e elas não sabiam como reagiriam. O fatídico dia realmente aconteceu logo depois do natal, quando as crianças foram passar a ceia na casa do pai, a Vivi foi até a casa da Sharon e deixou alguns bombons de FerreroRocher. Quando as crianças chegaram em casa, no dia seguinte, encontraram o presente e estranharam, porque a Sha não costuma comprar chocolates, então ela chegou e falou “vem cá! Senta aqui!” e em seguida “gente, é o seguinte! A mamãe tá namorando! E é uma menina!”. Ela conta a cara de surpresa em tom muito animado que a Rafa fez, enquanto ela completava “e foi ela quem deu esse bombom para vocês!”. E então eles piraram, ficaram animados, fizeram uma vídeo chamada com a Vivi, que já estava em Minas Gerais passando o Réveillon e marcaram de se conhecer pessoalmente assim que ela voltasse no início do ano. O encontro aconteceu e foi uma viagem, uma trilha que durou alguns dias. Foi incrível, em um lugar muito bonito. No primeiro dia envolveu um certo estranhamento das crianças sentindo que a mãe estava namorando alguém, mas no decorrer da viagem já estava todo mundo se divertindo e no último dia a Rafa deu uma flor de presente para a Vivi. Ela conta que pegaram ondas juntas e que todo mundo se divertiu muito. Hoje em dia todos moram na mesma casa, trocam muito e falam sobre a educação das crianças o tempo todo. A Sha conta que sente que as coisas aconteceram no momento certo, porque elas vivem uma maturidade única agora, e as crianças também. A Rafa entrando na adolescência com a presença das duas é muito importante, porque ela pode se sentir à vontade para compartilhar muitas coisas e a Vivi acolhe muito ela também, as duas possuem muita confiança uma na outra. Por mais que estejam juntas há um pouco mais de dois anos e meio, a Sharon e a Vivian se conhecem desde os 14 anos. Tudo começou quando a Vivi fazia capoeira com a irmã da Sha, dos 14 até os 17. Depois disso, por mais que as melhores amigas delas sempre se mantivessem em contato e elas sempre ouvissem falar uma da outra, elas seguiram a vida e não se viram mais. Cresceram, casaram, se mudaram e nunca se encontraram. Foram muitos anos depois, logo depois da separação da Vivi que ela decidiu sair de casa e ir até um samba encontrar as amigas e quando chegou lá viu a Sha. Importante contar que a Vivi, desde os 14, sempre se relacionou com mulheres, enquanto a Sha foi pelo outro lado: ela se relacionava com homens quando era mais nova, então se casou, engravidou, divorciou e depois ficou com a primeira mulher. Nessa época, ela já tinha tido algumas experiências e estava lá curtindo o samba. Elas brincam que não sabem o que aconteceu exatamente, mas estavam sentadas uma do lado da outra e a Vivi grudou a perna na perna da Sha. Foi um ímã. Ela colou a perna e a partir daí surgiu a possibilidade delas se beijarem. Quando o beijo rolou, todas as amigas comemoraram muito! Ou melhor, nem acreditavam! Imaginem só. Eram as melhores amigas de todas as amigas, juntas! E foi aquele beijo de levantar perninha, de seleção brasileira vibrar! Ter encontrado a Sharon e a Vivian foi uma das melhores surpresas que o Documentadas poderia ter recebido em sua primeira passagem por São Paulo. Por mais que toda história tenha sua carga gigantesca de importância e seu conteúdo único no nosso banco de registro e de dados, a Sha e a Vivi ocupam um espaço de reflexão e aprendizado grande não só no projeto, mas na vida e no dia de quem irá percorrer os olhos lendo e conhecendo suas histórias no texto a seguir. A Vivian tem 37 anos, é agrônoma e agricultora, trabalha diretamente na roça, em uma fazenda no triângulo mineiro. Vive entre Minas Gerais e São Paulo, lugar onde divide a casa com a Sharon, os filhos (a Rafa e o Raul) e as duas cachorras mais simpáticas da zona sul. Já a Sharon também tem 37 anos, mas ela é total São Paulo, por mais que ainda seja apaixonada pela natureza em todas as suas formas e jeitos. Ela trabalha em uma empresa própria, que atua em um ramo sobre premiação por experiências (no decorrer do texto falamos mais um pouquinho sobre!) e, além dos trabalhos, ela e a Vivi também fazem diversas atividades na luta política - arrecadam doações para as comunidades próximas, possuem ligações com as mulheres agrônomas do MST e a Vivi também é veiculada à um grupo de agroecologia em Uberlândia. Acredito que a casa delas, no meio da zona urbana e de tantos prédios em São Paulo, nos faz quebrar qualquer ideia pré estabelecida sobre a cidade cinza. É uma casa que, além de um portão amarelo e as paredes cheias de artes feitas pelas crianças, a alegria das cachorras e a animação natural do ambiente, conta com um terraço repleto de plantas, flores e pássaros que chegam livres, das árvores, para comer as frutas que elas colocam. São de muitas espécies, tamanhos e ficam muito dóceis por já estarem acostumados em ganharem as frutas. Foi neste ambiente que conversamos e nos conhecemos. Esqueçam barulhos de carros ou poluição e céu cinza, por ali só tivemos pôr do sol e muita cantoria ao vivo! ♥ Sharon Vivian

  • Mayara e Clara

    Foi através de um aplicativo de relacionamentos, em 2016, que a Mayara e a Maria Clara se conheceram. Elas conversaram um pouco, trocaram algumas ideias... e um tempo depois, a Clara estava numa roda de amigas, conversando, na rua, quando viu uma moça passando e identificou as tatuagens e o jeito parecido com “aquela que havia dado match no Tinder”. Ela conta que Mayara veio lhe encarando, mas que ambas não tinham certeza se eram mesmo quem imaginavam, então trocaram mensagens para se certificar, do tipo “eu passei por você agora há pouco?" e interpretaram aquele encontro como um sinal, para se encontrarem mesmo, com data e hora marcada, em breve. No fim de novembro de 2016 foi quando começaram a se relacionar e vivenciar momentos de altos e baixos, idas e vindas. Em setembro de 2017, quase um ano depois, foi quando realmente entenderam o que tinham enquanto um namoro. Esse entendimento e essas “idas e vindas” levaram tempo por conta de processos bastante internos e hoje, olhando para trás, percebem que o relacionamento mudou muito desde o início. Parte desse processo vinha de uma movimentação mais defensiva da May, que aos poucos foi compreendendo que elas estavam juntas para se ajudar. Nesse primeiro ano, a May sofreu um episódio de homofobia bem doloroso. Ela estava sozinha, num lugar até então seguro e foi agredida por pessoas que chegaram de fora da sua casa. Esse movimento de passar por violências muito graves que jamais imaginaria trouxe muito sofrimento e também um sentimento de querer encontrar a Clara por a entender como um apoio e alguém com quem poderia contar. Enquanto a Clara, por sua vez, respeitou e acolheu de forma essencial, deixando com que mesmo entre muitas dores, a May pudesse se sentir em segurança ali. Assim, com o passar do tempo e dessas turbulências, elas foram amadurecendo o sentimento. Outras coisas que envolviam a relação também foram amadurecendo naturalmente, como ciúmes, relações com familiares (que passaram a compreender e apoiá-las) e o próprio respeitar espaços de cada uma foi fundamental para que a relação pudesse ter maior conexão e intimidade. ​ Tanto a Mayara, quanto a Maria Clara, possuem 28 anos. Mayara é de Rio Claro, mas foi morar em Campinas há 9 anos para ser publicitária - profissão que desenvolve em uma agência - trabalha com atendimento ao cliente também, além de alguns trabalhos com redação, que é o que ela mais gosta. A Clara é boleira, faz bolos por encomenda, tanto caseiros, quanto para festas (e são muuuuuuito gostosos!). Além disso, a Clara também faz alguns trabalhos temporários em atendimento e suporte ao cliente. Ah, outra informação sobre elas que não poderia faltar, né? Elas são opostos complementares nos signos: áries e libra - e isso sempre esteve presente nas conversas, desde que se conheceram. No momento que nos encontramos conversamos bastante sobre a pandemia, elas contam que a adaptação foi difícil, tanto no trabalho, quanto na relação, na vida, nas amizades, no dia a dia. O trabalho envolvia vendas na presencialidade e tiveram que trazer os clientes para o meio online, sendo um desafio imenso, sentindo desconfortos pelas videochamadas, desconhecimento de tecnologias, foi uma adaptação bem grande. Elas entenderam que trazer o conforto para a situação é o maior desafio em seus trabalhos, tentam descontrair e fazer os clientes se sentirem tranquilos, mas ligar uma câmera não é fácil (e possível) para todo mundo. Além disso, foi difícil parar de fazer o que mais gostavam, como sair com o Paçoca (o cachorrinho mais educado e querido desse mundo!), ir à praia e sair um pouco do mesmo espaço dentro de casa para conseguir se movimentar, então perceberam ansiedades aumentando, momentos de maiores cobranças e imediatismos. A forma de tentarem se ajudar e deixar tudo mais leve foi reinventando os espaços em casa, a May se mudou para dividir o lar com a mãe da Clara e a Clara e a partir disso elas passaram o tempo livre maratonando séries, compartilhando refeições e investindo nos instrumentos musicais. Elas têm se permitido sair para andar de bicicleta, brincar com o Paçoca, visitar a família e ir até a casa no sítio. ​ Elas sempre se enxergaram dispostas a viver o amor e a estarem juntas e isso é o que mais se destaca para a Mayara. Ela diz que ambas sempre estão percebendo uma à outra de maneira inteira, com suas qualidades e defeitos. Quando enfrentam momentos em que as coisas se tornam um pouco mais sensíveis, entendem que é preciso encontrar força conversando e buscando uma na outra, porque o amor está também nessa persistência, nessa vontade de estar juntas e nesse encaixe que ele possibilita. A Clara percebe que o amor é desejar e entender o que queremos para o outro (a pessoa com quem nos relacionamos) e para a gente (a nossa relação) - e não só, para que isso se espelhe/se reflita nos outros também, nas nossas relações com as pessoas que estão ao nosso redor, visto que o amor não precisa envolver apenas o romântico e o sexual. Ela acredita que amor envolve companheirismo, incentivo, uma parceria mesmo. Isso faz com que as coisas permaneçam fortes e saudáveis ao longo dos anos, trazendo essa preocupação em relação ao bem estar… e, principalmente entre as mulheres, no que envolve afeto, porque acredita que o companheirismo e a escuta são nossas principais características. Tivemos várias conversas sobre como vimos as relações humanas hoje, além do relacionamento delas, mas como as pessoas se relacionam hoje em dia e, alguns dias depois, recebi uma mensagem falando como foi importante a participação no projeto porque fez com que elas olhassem para o relacionamento delas com maior respeito pela história que construíram juntas. Fiquei feliz pelo o que o Documentadas provoca na gente, esse autoconhecimento, mas também pelo reconhecimento que merecemos ter porque nos amarmos, enfrentarmos tantos preconceitos e termos uma história que resiste e que se permite conhecer, estar aberta e aprender com seus erros, é de fato, ter coragem. Obrigada por compartilharem a história e aproveitem o amor de vocês, meninas ♥ Mayara Maria Clara

  • Lorrayne e Mari

    Lorrayne conta que Mariane chegou num momento em que tudo estava muito difícil e logo foi deixando as coisas mais leves. Mari apresentou a sua família, que ensinou para a Lo uma nova forma de amor, e para além disso, adotaram os gatos, estão mobiliando o apartamento, construindo um lar. São parceiras e muito amigas. Amam o quanto parece que estão juntas há muito tempo por tudo o que já viveram - e por isso se agarram na confiança que depositam no relacionamento. Compartilham muitas coisas, dão risada o tempo inteiro. Conversam sobre a importância de valorizar o quanto são novas e já possuem certa estabilidade. Como é precioso terem uma à outra, um trabalho, uma casa… e como entendem o quanto batalham para ter isso. Não querem perder. Mesmo que tudo tenha acontecido de forma rápida (o relacionamento em si, por exemplo) possuem noção de que ainda está no começo, que ainda são jovens e que querem viver muita coisa juntas. Trazem o exemplo da virada do último ano (no réveillon) que só queriam ficar dentro de casa, porque tinham acabado de se mudar e valorizavam muito aquele espaço. O apartamento era composto por um sofá, uma cama, uma pilha de roupas e um jogo de lençol (que ganharam da tia), mas amavam tudo o que tinham. E isso também fala sobre a valorização de tudo o que adquiriram juntas desde então. ​ Lorrayne, no momento da documentação, estava com 22 anos. Ela nasceu em São Paulo, morou até os 14 anos no interior da Bahia, depois se mudou para Minas Gerais e aos 19 voltou para São Paulo para estudar, cursando psicologia, ganhando uma bolsa de estudos e vivendo com uma tia de consideração. Lo vive com o transtorno de borderline, e conta que foi muito difícil encontrar alguém que lidasse com ela de forma paciente, que estivesse disposta a entender suas condições. Mariane, no momento da documentação, também estava com 22 anos. Ela é de São Paulo, nasceu e viveu na zona leste da capital e hoje em dia mora (e está adorando viver) na zona norte. Mari trancou a faculdade e está na descoberta de um novo curso para iniciar. Por um mês, antes de 2022, Lorrayne ficou na casa dos pais, querendo desistir da vida em São Paulo. Mas voltou e fez a inscrição para uma nova empresa, onde passou rapidamente e começou a trabalhar com a Mari (empresa da qual trabalham até hoje). ​ Mari já trabalhava na empresa antes da Lorrayne chegar, mas sempre foram de áreas diferentes. Como a empresa é terceirizada para outras marcas, atuam em escritórios/setores diferentes, mas o atual chefe da Lo é ex chefe/e muito amigo da Mari, então ela vivia fazendo visitas e conversando muito com ele. Em março de 2022, numa dessas visitas, passou pelo andar dele e viu a Lorrayne pela primeira vez. Ela usava máscara facial (por conta da pandemia de Covid-19, usar máscara era norma da empresa) e o pensamento da Mari foi achar ela uma mulher muito bonita, mas naquele momento não interagiu. Na época, Mari não estava se sentindo confortável na área em que estava trabalhando. Não sentia que seu rendimento era bom e tinha medo de ser demitida. Decidiu pedir uma oportunidade para ser trocada de área, saiu de férias e quando voltou teve o retorno positivo de transferência. No final de maio teve um novo encontro aleatório com a Lorrayne pelos corredores do escritório, em que trocaram olhares e dessa vez a Lo notou ela de volta, até chegou na mesa e comentou com suas colegas em tom de brincadeira “É o seguinte, estou namorando!” e as meninas responderam “Mas você fala isso sempre! Quem é a próxima?!” “É a que tá ali naquela mesa, de cabelo azul!”, se referindo à Mari. Naquele dia, Lorrayne não perguntou pra ninguém o nome dela. Foi tentando encontrar o perfil no instagram, achou e seguiu. Porém, nos dias seguintes foi atestada com Covid-19, ou seja, ficou 10 dias afastada do trabalho e elas não se encontraram mais. ​ Depois que Lorrayne voltou para a empresa, soube que haveria uma festa junina. Mari, por sua vez, sabendo da festa, deu um jeito para estar presente (lembrando que ela não trabalhava na mesma unidade/mesmo escritório que a Lo e deu um jeito de ir até lá no dia da festa, pensando em participar do correio elegante - ato de mandar uma cartinha, brincadeira comum em festas juninas). Nem imaginava que a Lorrayne teria a mesma ideia e mandou um bilhete pelo correio antes mesmo dela. Pesquisou a letra de uma música da banda favorita que descobriu através de postagens no seu Instagram. O bilhete foi lido em voz alta, o que deixou elas suuuuper envergonhadas, mas seguiram em frente. Mari respondeu com a sequência da música que falava “Vamos viver uma aventura?” e pelo Instagram Lorrayne perguntou quando elas poderiam começar a viver isso. Mari explica que tinha uma sensação muito forte de que, a partir do momento que começassem a conversar, algo muito sério aconteceria. Não seria só um flerte, só alguém que ela iria ficar… e sentiu um certo receio. Demorou alguns dias para responder essa mensagem… Mas respondeu. Marcaram de sair, foram numa praça perto do trabalho, estavam sem dinheiro, mas deu tudo certo. Depois disso, sentem que nunca mais se desgrudaram. Na época, ficavam muito na casa em que a Lo morava com a tia, justamente por ela não estar muito presente. Porém, ambas falavam sobre o desejo de morar sozinha - e foi quando decidiram morar juntas. Em dezembro conseguiram o apartamento que moram hoje e, um tempo depois, na frente do Museu do Ipiranga a Mari pediu a Lorrayne em casamento. Hoje em dia, seguem com os planos… mas não só planos, afinal constroem o dia a dia juntas a cada mês que passa dentro dessa relação. ↓ rolar para baixo ↓ Mariane Lorrayne

  • Lilian e Marcela | Documentadas

    O encontro da Lilian e da Marcela com o Documentadas aconteceu poucos dias antes do casamento delas - que não seria nada convencional - um casamento temático de festa junina! Nos encontramos em sua casa (que também é o lugar onde trabalham sendo padeiras) e estavam entre muitos preparos: desde as últimas encomendas da padaria, pois sairiam de férias/e lua de mel logo após a cerimônia, até as preparações do casório porque tudo foi feito entre muitas mãos - comidas, decorações, lembranças… não contrataram buffet ou empresas para isso, contaram com os próprios serviços e de amigos que também trabalham com gastronomia. A festa foi dedicada a reunir pessoas que amam e fazer todas se sentirem bem: que vistam se sentindo bem, comam bem, dancem, brinquem, se divirtam. Todos estavam muito empolgados, inclusive as contratadas, que são apenas mulheres - fizeram questão disso e foram atrás até de banda de forró sapatão, que fez com que a festa ficasse muito mais animada. Conversamos sobre entender a instituição casamento com o recorte de se tratar de duas mulheres e em tudo o que isso envolve. Por mais que existam várias críticas sobre essa instituição e seus conservadorismos, existe também o lado político pela importância de ter um documento que afirma esse amor. É muito importante o evento, a celebração. Reconhecer que os familiares estão viajando de longe para celebrar esse amor que sempre nos foi negado, que toda relação heteronormativa é celebrada e comemorada o tempo todo, mas entre duas mulheres fomos colocadas num espaço de não-celebração, ficamos minguadas, podemos até beijar mas não demonstrar tanto, não abusar da demonstração… Então celebrar um casamento é celebrar MESMO. Celebrar com vontade. Ter quem você ama celebrando com vocês. Celebrar duas mulheres amando. E, para elas, o casamento só faria sentido se fosse vivido assim como será: com todas as pessoas lá, de forma coletiva. Elas construíram essa relação pensando no mundo que acreditam. Se sentem confortáveis, acolhidas. Sentem que a relação é uma grande mesa com comida e todos ao redor, compartilhando. ​ Lilian, no momento da documentação, estava com 30 anos. Nasceu no interior do Espírito Santo, num município chamado Pinheiros, mas cresceu em Vitória, na capital. Ao completar o ensino médio foi para Mariana, em Minas Gerais, cursar história e durante a faculdade descobriu a disciplina de antropologia da alimentação. Quanto mais estudava, mais se interessava e ao finalizar a graduação começou a estudar gastronomia. Ao se mudar para Minas Gerais, não tinha conhecimentos em culinária, mas aprendeu pela necessidade e a primeira receita que fez por vontade própria foi pão de fermentação natural. Começou a ser um hobbie, mas logo se viu pesquisando mais sobre panificação e misturando a panificação com seus outros estudos dentro da gastronomia. Foi então que conheceu uma pesquisadora chamada Neide Rigo, que explica sobre plantas, hortas na cidade, sobre o que plantar > o que comer, e consumindo os conteúdos que essa pesquisadora publicava conheceu um restaurante em São Paulo, o Maní. Viu que estavam com inscrições abertas para trabalhar por um período, se inscreveu e passou, foi assim que sua mudança para São Paulo aconteceu, em 2018. O período de trabalho seria, inicialmente, de 4 meses, mas virou uma contratação e ela se oficializou enquanto padeira. Conta como foi incrível, não conhecia mulheres padeiras - ou melhor, conhecia uma só que acompanhava o trabalho e admirava. Foi uma grande realização profissional. E, para além da padaria, ela segue adorando cozinhar e descobrir receitas, inventar festas temáticas com comidas temáticas para reunir os amigos e familiares, pesquisar sobre culinárias e culturas. Marcela, no momento da documentação, estava com 27 anos. Ela é natural de São Bernardo do Campo, mas cresceu em uma cidade pequena chamada Dracena, no interior de São Paulo, onde viveu até os 17 anos. Cresceu numa família bastante grande e tradicional e passou pelo seu entendimento de gênero e sexualidade bastante cedo, então não se sentia bem no lugar onde morava, decidiu sair da cidade e se mudar para Campinas, também em São Paulo, para cursar faculdade de Artes Cênicas. Lá, durante 4 anos, se sentiu muito feliz e viveu diversas descobertas. Em 2018, precisava de maior independência financeira e procurou uma nova fonte de renda: começou a fazer pão de fermentação natural em casa. Depois disso, procurou trabalho na área, indo em padarias e oferecendo o seu serviço. Conseguiu trabalhar em uma padaria e depois disso se organizou financeiramente para se mudar para São Paulo (capital), até que em 2019 a mudança aconteceu. Logo que chegou na cidade, fez o mesmo que havia feito em Campinas: foi de lugar em lugar oferecendo seu trabalho. O primeiro lugar que ofereceu foi na padaria do Maní e a chamaram para alguns freelancers, então vez ou outra ela ia cobrir alguém, inclusive a Lilian, quando tirou alguns dias de férias. Depois desses freelas, ela foi contratada de fato. ​ Quando começaram a trabalhar juntas, conversavam bastante. Lilian é muito acolhedora, conta que isso vem de família, aprendeu a acolher, conversar, receber bem as pessoas porque sua família é assim. Na época, ela morava em um apartamento dividindo lar com amigos e apresentou essas pessoas para a Marcela, inseriu ela na sua vida e logo viraram amigas. Marcela também foi se abrindo, contou que recém estava solteira, que queria desbravar São Paulo, aproveitar a cidade, não queria namorar. Aos poucos, às vezes se olhavam de um jeito diferente enquanto trabalhavam. Lilian percebia um jeito da Marcela observar… Até que um dia Marcela chegou um presentinho para ela, entregou e disse: “Não significa nada”. Quando Lilian chegou em casa, contou para a amiga e a amiga disse: “Significa!!! Ela te quer!!”. Num dia, saindo juntas, alguns meses depois de terem começado a trabalhar, se divertiram, foram em vários lugares até que Lilian perguntou o que estava significando aquilo. Marcela respondeu algo que Lilian até hoje acha muito legal, ela disse que achava que estava apaixonada pela Lilian, não sabia se era romanticamente, mas que adorava passar um tempo com ela, estar ali, adora a amizade e que sentia vontade de beijá-la. Lilian disse que sentia também, e assim elas se beijaram. Desde então elas ficaram juntas, mas Lilian tinha uma mudança de vida planejada: ela iria para a Espanha. Já havia desfeito a casa que compartilhava, vendido suas coisas, pedido demissão da padaria… Sua vida havia se resumido em uma mala. ​ Passaram o final de 2019 juntas e em fevereiro de 2020 Lilian saiu de fato do trabalho, até lá elas estavam apenas vivendo, se divertindo, sabiam que a separação viria em breve. Os planos da Lilian eram visitar seus amigos em Minas Gerais, a família no Espírito Santo e se mudar de vez para a Espanha. Porém, dias antes, chegou a pandemia de Covid-19. Quando isso aconteceu, ela estava hospedada na casa de um amigo, uma kitnet em São Paulo, esse amigo havia acabado de se mudar para cursar medicina na USP e ele orientou: “Estão correndo boatos de que isso aí vai durar uns dois anos no mínimo”. Ele decidiu não ficar em São Paulo e deixou a kitnet com ela. Ela chamou a Marcela e ficaram juntas, mas não tinha nada: trabalho, roupa, perspectiva… os primeiros meses foram de espera, até que a ficha foi caindo porque o restaurante que ela iria estagiar na Espanha fechou, precisou devolver as passagens da viagem e entendeu aos poucos que o sonho acabou. Marcela também foi demitida, precisavam repensar tudo. Em abril decidiram anunciar aos amigos que iriam fazer pão para vender e, logo no primeiro anúncio, foram dois dias de fornadas. Depois, perceberam que trabalharam mais de duas semanas sem parar - e se organizaram melhor. Transformaram a kitnet numa padaria, assim foi seu sustento até novembro, quando se mudaram para um lugar maior. Ressaltam como foi muito importante as pessoas terem comprado de quem faz durante a pandemia. Esse foi o contato humano, foi o que nos uniu mais. Entre o final de 2020 e 2021 moraram em uma casa que possuía mais espaço e lá produziam em maior escala, até que chegaram no lugar que estão agora. Hoje em dia, possuem um espaço separado na casa onde acontece a produção e destinam suas vendas principalmente para pessoas jurídicas, ou seja, outras empresas e restaurantes. Se dão muito bem trabalhando juntas, adoram o que fazem e Marcela acredita muito que o amor entre mulheres está presente nessa torcida que uma tem pela outra, nesse fortalecimento. Vivem uma amizade muito potente dentro desse amor. Lilian concorda: talvez por ser tão poderosa é que muitos temem. São muito matriarcais, cuidam e zelam umas pelas outras. ↓ rolar para baixo ↓ Marcela Lilian

  • Paula e Mariana

    A história da Paula e da Mariana chega enquanto algo muito poderoso no Documentadas. E quando digo poderoso, quero me referir à grandiosidade que temos aqui: primeiramente, uma denúncia que precisamos fazer sobre a forma que as instituições religiosas tomam o corpo das mulheres e manipulam suas ideias, culpabilizam seus desejos. Grandiosa é também pelo seu afeto, que rompeu as barreiras e trouxe cor, trouxe amor, trouxe uma nova vida para as duas que se permitiram descobrir o mundo juntas. No momento do nosso encontro, Ma e Paula estavam morando em Jundiaí, interior de São Paulo. Mari veio de Cascavel, no Paraná, em 2018 até Campinas, casada com um homem que desejava se tornar pastor e resolveu cursar psicologia. Não teve muito apoio da família para começar a faculdade, mas sempre amou conversar e ouvir as pessoas, então decidiu iniciar seu sonho. Paula, por sua vez, cresceu e viveu na igreja: seguiu a risca os princípios da religião. Foi presidente, missionária, louvava todo domingo - e também, todo domingo, pedia perdão porque achava que tinha uma doença, a de sentir atração por mulheres. Não teria como começar esse texto sem explicar o quanto esse amor representa: cor. Por maiores que sejam os desafios relatados, é muito gratificante olhar para elas e ver as roupas coloridas, o afeto (muito afeto!), as mãos dadas enquanto conversam sentadas na grama, tudo muito enfeitado, cuidado. Contam como era a vida antes, como realmente achavam que não podiam usar cores fortes, sair em certos lugares, beber certas bebidas, estar com certas pessoas, usar roupas ou ter cortes de cabelo. E como agora se permitir vestir, se conhecer, descobrir o que querem usar/quem são é o que gostam de fazer - de forma perceptível e feliz. ​ Por mais que Paula pedisse perdão para Deus por sentir atração e se sentia uma aberração, uma doença ou algo tão ruim quanto, a verdade é que nunca tinha beijado uma mulher ou sequer conversado com alguém sobre esse desejo, pelo medo da repressão que poderia sofrer ou dos homens não a desejarem mais. Naquela época, o tanto que Paula era envolvida com a música na igreja, a Mari era envolvida com as pessoas porque adorava conversar, ouvir as mulheres, aconselhar… Há alguns anos atrás, antes da mudança para Campinas, Ma teve uma vivência de beijar mulheres e casou justamente pela “cura”, falava sobre isso abertamente, se orgulhava de ter sido curada, afinal, era isso que a igreja pregava. Quando a Paula soube, pensou: “Posso falar pra ela, ela não vai me julgar”. Demorou alguns meses para tomar coragem e, na metade de 2019, marcaram de caminhar num final de tarde. A Paula contou, mas como se já tivesse passado por isso, no sentido de: “Sentia atrações, já não sinto mais… Uma vez aconteceu. Já passou.” Paula, que sempre foi muito fechada, começou a se abrir e permitiu conversar com a Mari. Tinham diversas coisas em comum, inclusive a irmã da Paula estava morando em Curitiba na época - e Mari é do Paraná… essa questão geográfica as aproximou ainda mais. ​ Foi num momento muito difícil em que a avó da Mariana faleceu, que ela precisou ir ao sul, estava muito vulnerável, se sentindo triste, não quis ir sozinha e a Paula foi sua companhia dando suporte e apoio onde elas passaram mais tempo juntas e se aproximaram de fato. Depois da viagem sentiram muita saudade uma da outra e foi um período de sofrimento muito grande, não só pela saudade, mas entraram numa angústia misturada com negação e questionamento, se viam em constante conversa com Deus: “Você não tinha me curado? O que tá acontecendo?” e no caso da Mari: “Eu fiz de tudo, eu até casei”. Sentiam muita falta da outra no dia a dia e queriam se ver em qualquer brecha que tinham, seja para caminhar, almoçar, jantar… Foi quando Mari resolveu conversar com o marido sobre o que estava sentindo. Sua reação foi de ficar muito magoado, bravo, foi para o Paraná e contou para a família dela e para os pastores. Foi nesse cenário que ela foi para Jundiaí, na casa dos tios, como um “tirar a Mariana de cena”. Obviamente isso respingou na Paula, chegou até a igreja em Campinas, nos pastores e na família dela. O ano já era 2020, a pandemia de Covid-19 estava começando e tudo estava parado/se adaptando para o mundo online. O pastor chamou Paula para conversar, anunciando que iria afastá-la de todos os ministérios, que ela iria precisar passar por várias “disciplinas”. A mãe dela sabia e também negava, colocava bíblias grifadas na cama dela, tudo estava muito difícil, foi quando Paula decidiu ir até Curitiba passar uns meses na casa da irmã. Precisava se ouvir, se encontrar, entender o que queria fazer. ​ Entre o tempo que Paula estava em Curitiba e que Mariana estava em Jundiaí, elas conversavam online, mas tudo era muito confuso. Ainda viviam períodos turbulentos por conta da religião e das suas famílias, além de que elas nunca tinham se beijado. Tudo acontecia por conta da atração que elas sentiam, mas existia a possibilidade de dar errado, de não ser bom, de não se suportarem juntas, simplesmente. Quando Paula decidiu voltar para São Paulo, foi para Jundiaí encontrar a Mari. Lá, ela vivia bem com os tios. Eles são pessoas muito respeitadoras - que inclusive não apoiavam o casamento dela enquanto “cura” - e deram apoio para ela começar essa nova vida, buscaram emprego, apoiam também a relação dela com a Paula. Foram a primeira rede de apoio que elas tiveram. Depois de se reencontrarem, Paula fez uma carta de desligamento da igreja, principalmente quando soube que o pastor queria que ela fizesse uma disciplina pública - expondo para todos que, se fosse ficar, seria “curada”. Depois de quase um ano vivendo esse processo entre a viagem que fizeram no falecimento da avó e a aceitação de quem são, relembram como tudo foi muito intenso. Paula conta como o corpo dela falava: tinha crises alérgicas, muito stress, se culpava o tempo todo. Foi muito bom se libertar. Aceitar que não são doentes, entender, encarar, começar o namoro em si e começar a viver as coisas novas - beber com os tios pela primeira vez, por exemplo. ​ Depois do início do namoro, foram 6 meses em que a Paula morava com os pais em Campinas e namorava a Mari. A mãe não falava sobre o assunto dentro de casa, mas deixava claro que Paula iria se arrepender. O pai acabava confortando. Depois de muita violência psicológica, ela precisou dar um basta. Entendeu até o último momento que isso era um processo para a mãe, que leva tempo mesmo para entender, respeitar, aceitar… mas as coisas precisam ter limites, porque machucam. Foi quando decidiu sair de casa e morar com a Mari, em Jundiaí. Quando se mudaram, os problemas reais chegaram. Mari tinha uma vivência diferente, já foi casada, morava fora há tempos… Paula morou com os pais a vida toda, nunca tinha tido um relacionamento. Foram aprendendo tudo no dia a dia. Em 2022 moraram sozinhas o ano todo num apartamento, adotaram o Théo, um cachorrinho [primeiro cachorrinho da Paula], e sentem que tudo o que viveram foi muito aprendizado. Nesse apartamento a Mari pediu Paula em casamento. Foi lá que aprenderam que dependiam uma da outra, que estavam realmente juntas. No começo da relação achavam que todos iriam ter que aceitar o amor delas, que a família iria ter que engolir… e lá no apartamento, não… viram que a vida era mais sobre elas, mesmo. Que elas já estavam felizes daquela maneira, naquele tempo. O pedido foi simbólico por tudo o que estava representando. ​ No momento da documentação, Paula estava com 27 anos. Trabalha enquanto engenheira de alimentos numa empresa alimentícia, fazendo a qualidade do produto. Já jogou badminton, joga beach tennis e adora tocar música. Brinca que se tornou engenheira de alimentos porque adora comer. Mariana, no momento da documentação, estava com 28 anos. É psicóloga e está transicionando dentro da carreira. Adora falar sobre saúde sexual da mulher e prazer feminino. No tempo livre, ama estudar e também passa muito tempo na Netflix. Hoje em dia, elas moram com os tios da Mari, numa chácara com duas casinhas e um espaço só delas. Se veem reconstruindo a rede de apoio, fazem parte de grupos de amigas em Campinas, não querem se sentir sozinhas e compartilham o que sentem, as questões, vão nos bares, nos eventos e adoram conhecer gente nova. ​ Dentre o peso de terem vivido achando que são uma doença, Paula e Mari falam sobre como a religião nos coloca em muitos momentos contraditórios de vez em quando. Paula relembra como se fala muito em amar ao próximo, já foi missionária e ajudava muito os outros, mas tudo era sempre pensando nela: como ela estava ajudando, como estava fazendo o bem, garantindo sua boa ação. E o quanto isso não é o que de fato Deus ensina. O certo é ajudarmos o outro porque nos preocupamos com o outro, porque amamos quem ele é, queremos cuidar. Hoje em dia, ela faz tudo pensando de fato na outra pessoa, não de forma superficial. E acredita só ter aprendido isso com a profundidade do amor. Mari explica que esse amor é um amor que não pesa. Traz o exemplo que não curte café da manhã, mas que adora levantar e fazer o café para a Paula, que acorda cedo para trabalhar. É algo muito natural, que gosta e faz por gostar. Uma profundidade que nunca tinha experimentado. Grandiosa. Muda a forma de olhar o mundo. E deseja que as pessoas vivenciem isso, sintam esse amor. Por fim, ainda sentem que Deus é amor e que é preciso ter muita coragem para se amar tanto. Acredito que é muito incrível elas manterem esse carinho pela fé, não guardam mágoas ou ódio, até porque foram criadas assim. É normal sentir rancor pela religião porque de fato é errado, criminoso e injusto o que fazem com os nossos corpos. Mas acreditam nas coisas boas que aprenderam e se apegam nisso, não tem como apagar e construir uma nova personalidade, então acrescentaram cor na que já existia, se tornaram pessoas melhores. ↓ rolar para baixo ↓ Paula Mariana

  • Mel e Sophia

    A história da Sofia e da Melissa é (para não dizer uma das mais especiais que já documentamos por aqui - visto que todas são especiais) uma das mais desejadas - sabe por que? Elas decidiram se tornar o que ouço muito ser sonho de vocês: um casal que largou tudo e comprou um sítio. Nos encontramos no ano passado, nesse novo lar delas, que estava cada vez mais sendo construído e amado. Com as plantas, os animais e as decorações. A Mel estava com 34 anos, ela é jornalista e escritora. Já a Sofia estava com 31, é editora de vídeos e por hobbie adora fazer tatuagens. Tudo começou quando elas moravam em São Paulo, na capital, e entenderam que não dava mais para viver sob tanto trabalho: precisavam dedicar a vida um pouco mais para si, viver para se divertir, não para trabalhar e trabalhar. Foi aí que venderam o apartamento e compraram uma casinha no interior de Campinas, numa região bastante afastada com uma vista bonita, bastante árvores e um rancho bonito, assim surgiu o @ranchosapatao. ​ Morar em um sítio não quer dizer que elas deixaram de trabalhar ou que abdicaram de suas profissões. A Mel, por exemplo, já trabalhou em ONGs internacionais de proteção animal e foi jornalista de grandes revistas e hoje em dia está focando sua carreira no término do seu (ou melhor, seus?!) livro(s). Para quem está no mundo sapatônico há mais tempo, desde os blogs, talvez já deva ter esbarrado com o trabalho dela: ela escrevia um blog chamado Fucking Mia, que virará livro e está em revisão nesse momento pandêmico que vivemos. No rancho, parte da rotina também é dedicada ao cuidado e amor aos bichinhos de quatro patas - todos resgatados da rua. O Mantiqueira e o Juazeiro, dois cachorros super simpáticos, e o Maceió e o Quito, dois gatos maravilhosos ♥ A Sofia e a Mel entendem que a relação delas é baseada na parceria, porque costumam ser pessoas práticas em momentos de aperto ou perrengue e sempre dão um jeito juntas. Nos momentos realmente mais difíceis, entendem que não há o que não possa ser conversado e isso faz com que se compreendam muito bem - porque sempre tentam ao máximo se colocar uma no lugar da outra. Conversamos sobre o quanto esse posicionamento é importante no momento de conversa para que não haja injustiça, e elas complementam que é essencial, também, para que exista o respeito no limite individual de cada uma. ​ Elas se conheceram em 2015, através de uma amiga em comum. Todas foram juntas em um bar em São Paulo e se viram pela primeira vez. A Sofia sorriu para a Melissa e logo ela pensou: “Nossa, pegaria essa menina!”. Depois, se adicionaram no Facebook e no Instagram. Ambas tinham relacionamentos, e seguiram sem interações pelas redes sociais. Um tempo depois, mesmo que a Mel sempre tivesse essa queda pela Sofia e não interagisse, foi a Sofia quem respondeu um ‘storie’ dela, dizendo: “É muita crush para um vídeo só.” Como no vídeo era a Mel e a cachorra dela, ela fez uma brincadeira perguntando quem era a crush que ela se referia, e a Sofia disse que eram as duas! Elas conversaram, trocaram ideia por um tempo e combinaram de sair para se conhecer melhor. O encontro finalmente aconteceu, lá em 2018. Marcaram numa terça-feira, se encontraram e logo no começo se beijaram. Brincam que desde esse beijo estão juntas, não teve como desgrudar. Na época, a Sofia estava em um relacionamento aberto e acabou terminando, porque entendia que o envolvimento com a Mel era maior do que poderia ter previsto. E tudo foi se desenvolvendo, caminhando. Elas dizem que se sentem em um encontro de almas, foi realmente intenso - e isso mudou suas rotinas, vontades e futuros. Fizeram tatuagens, viagens e novos planos. A Mel diz que quando conheceu a Sofia se expandiu enquanto pessoa e elas viraram o casal do “Vamos?” “Vamos!”. Hoje em dia, o apoio e o grude seguem muito presentes. Em dias mais difíceis, uma ajuda a outra, desde deixar o computador preparadinho para o trabalho, até fazer uma comida mais gostosa no fim do dia. O jeito que elas preparam a casa, os cuidados, as reformas… tudo é pensado em conjunto e para o bem-estar. ​ “O que é uma mulher sem pensar na referência que temos ao homem?” - Sofia trouxe esse questionamento à conversa. O questionamento foi para pensarmos na mulher de forma pura, como um lugar nosso, de apoio, enaltecimento, ajuda, sem hierarquia e tantas outras culturas que acabamos herdando do patriarcado. Ela acredita que as relações entre mulheres dizem muito sobre o amor e sobre o coletivo. Para a Mel, é algo muito libertador e engrandecedor o processo de descobrir o amor por outra mulher. Amar outra mulher é uma grande revolução, é entender como não temos limites, como podemos ser tudo. Vai além de todos os padrões. Elas tentam estar sempre rodeadas de mulheres ao redor: nas amizades, nos trabalhos, no cotidiano. E dizem que as coisas vão realmente mudar quando tivermos mais mulheres em cargos de poder. Além disso, vão mudar também no momento em que as pessoas tiverem mais auto-suficiência e acesso ao conhecimento, escutando outras pessoas que sofreram por muito tempo, historicamente, para construirmos uma sociedade que não vá pelo mesmo caminho que estamos - que seja realmente construída com empatia. Sofia Melissa

  • Isabela e Camila

    Hoje em dia, quando elas se encontram, tentam passar o máximo de tempo que conseguem juntas. Já rolou uma semana, mas geralmente investem nos feriados. Como ambas estão trabalhando presencialmente, a distância ainda é um problema difícil. Tentam também diminuir o peso da saudade conversando bastante e curtindo o começo do namoro da melhor forma possível. Fazem chamada de vídeo todos os dias, jantam juntas, se falam sempre antes de dormir e nos finais de semana conversam a maior parte do tempo em vídeo também, principalmente ao anoitecer, quando podem virar a noite assim ou praticamente dormir em ligação. A Isa comenta que, para ela, o amor demonstra ser acompanhado desse respeito e companheirismo, e ela sentiu que nasceu o amor quando entendeu que podia confiar plenamente, que podia se entregar e pegar na mão, estar de verdade com a Cami. E a Cami conta que amar uma mulher, mesmo não romanticamente, significa se sentir completa. É amando que ela encontra o carinho, a identificação, o cuidado, a escuta, o acolhimento… é tudo o que ela sempre quis e que nunca imaginou que conseguiria ter com alguém. Juntas aprendem diariamente um novo modelo de se relacionar, também. De estarem dispostas, de se doar. Foi sóóóó no fim de janeiro que elas realmente conseguiram aceitar que esse sentimento existia e que o próximo passo era fazer o encontro acontecer, afinal, já estava na hora. Até a família da Camila já sabia da existência da Isa e dessa paixão à distância (e apoiava que elas se encontrassem!), então ela embarcou no avião e voou até Guarulhos. Elas se encontraram no dia 13 de fevereiro e no dia 14 estavam namorando. Foi assim, literalmente, encontrou > namorou. Hoje em dia ambas famílias gostam bastante e apoiam, Inclusive a família da Isa, que adora todas as vezes que a Cami vem até São Paulo. Elas já andam com aliança e tudo. Fizemos mil piadas sobre a corrida e sobre o tanto que a Isa correu de dezembro até fevereiro, em círculos, foi formando a aliança. Depois foi só parar de correr e vestir no dedo. Simples assim. Sem traumas. Ela entendeu que foi isso mesmo, só ela não enxergou, no fim estava na cara que isso aconteceria, sempre esteve. Mas respeita também porque foi o tempo dela e fica feliz da Cami ter entendido isso e não imposto nada que ela não se sentisse realmente à vontade de viver. A Cami e a Isa se conheceram através do Instagram, de uma forma bastante aleatória. A Cami, no começo de 2020, postou uma foto com uma atriz que tanto ela, quanto a Isa, gostavam muito: a Renata Toscano. Ela marcou a Renata e a Isa viu essa foto, por conta de ser administradora de uma página de fãs dela. Como ela ainda era pouco conhecida no Brasil, decidiu seguir a Cami e as duas se falaram rapidamente e a Cami compartilhou que que também tinha vontade de criar conteúdos enquanto fã, então mantiveram breves contatos, mas ainda sobre coisas pontuais. Com o início da pandemia e a agenda da artista no Brasil não dando continuidade, a Isa até deu dicas para a Cami fazer um Twitter porque era uma rede social mais fácil para fãs se comunicarem que o Instagram; ela fez, mas com o tempo elas foram deixando de se falar aos poucos. No decorrer do ano e, dessa vez, no Twitter, elas se deram um pouco melhor e entenderam que ambas se relacionavam com mulheres, o que fez com que se identificassem mais, já que o restante do meio ainda era bastante heterossexual, então aos poucos acabaram fazendo uma amizade. Nessa época, a Camila namorava e era muito fechada sobre o seu relacionamento, elas falavam muito pouco e não havia possibilidades da amizade delas ser mais que uma amizade, nem se passava pela cabeça de ambas um flerte ou algo do tipo, o assunto era realmente sobre fã clube. Depois de um tempo, elas descobriram outras séries em comum e, entre setembro e novembro, quando a Cami passou pelo processo de término, começou a se abrir sobre seu relacionamento para a Isa. Foi entre dezembro e o ano novo, um tempo depois do término e de já estar solteira, que ambas começaram a perceber que poderia surgir um sentimento a mais na amizade das duas. A Cami tentou falar sobre e conversar com a Isa, que reagiu da forma que soube: correndo. Hahaha! Ambas brincam sobre, mas a verdade é que ela correu o máximo que conseguiu. Evitou sentir, falar, mas ao mesmo tempo não deixou de conversar diariamente com a Camila. Ou seja, uma hora, iria ter que lidar com isso. A Isabela e a Camila, mesmo estando há pouquinho tempo juntas, constroem uma relação muito bonita ligando São Paulo, capital, com Itajaí, cidade no interior de Santa Catarina. Elas se conheceram pouco tempo antes da pandemia, de forma online e aleatória, através do Instagram, ficaram amigas e só foram desenvolver um sentimento e se encontrar realmente em 2021! E, neste ano, além do relacionamento estar acontecendo, se permitiram também viver um novo tipo de relação, de comunicação e de cuidado. ♥ Isabela tem 25 anos, mora em São Paulo e trabalha enquanto auxiliar financeira em uma imobiliária. Tem sua formação em direito, mas nunca atuou e nem pretende seguir carreira na área. Sonha mesmo em fazer pedagogia. Foi por isso que deu início a esse trabalho na imobiliária, para conseguir bancar os estudos e ter maior independência financeira. Ela brinca que esses ERAM os planos, porque hoje em dia, nem sabe se vai continuar morando em São Paulo e, enquanto ouço essa frase, a Camila fala no fundo “ela vai mudar pra Itajaí!!! Vai mudar!!!”. A Camila tem 20 anos, mora em Itajaí, interior de Santa Catarina e trabalha enquanto analista de crédito, em contato direto com o cliente. Ela cursa ciências contábeis e gosta bastante de morar em Santa Catarina, por mais que esteja gostando das idas para São Paulo de vez em quando também. Isabela Camila

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